domingo, 28 de setembro de 2008

O sábio catador de palavras


--Ernesto Rodríguez Abad


Há muitos anos viveu um sábio que queria colecionar todas as palavras do mundo.Procurou pelos países longínquos, falou com reis, rainhas, princesas, heróis e vilões de todo o mundo.
Havia tantas palavras.Eram tão estranhas algumas, tão enigmáticas outras, tão mágicas e loucas outras....
Procurou nas tribos perdidas nas selvas.Subiu as montanhas mais altas,submergiu mares.... e em algumas árvores encontrou entre as folhas palavras tímidas, enroladas como lagartas.Nas flores dos parques viu as mais ternas e delicadas e entre o fogo das fogueiras as mais fortes e ardentes.
Porém o sábio não soube o que fazer com elas e guardou-as dentro de caixas.Elas desorganizadas ou chateadas, sem saber o que fazer e nem como se relacionar, gritavam e pedia liberdade.
Faltava imaginação.
Essa não pode encontrar aquele sábio obstinado pelas palavras estranhas, pelos sons mais cativantes.
Assim, teve que sair em busca daquele ingrediente fundamental para poder brincar com as palavras.
Percorreu sete vezes o mundo,porque nunca se sabe onde encontraremos o que procuramos.Sete noites passou sonhando, mas a imaginação não apareceu em nenhum dos sete sonhos.
Ficou velho e nasceu uma barba branca que arrastava pelo chão. E voava com o vento.Um dia pensou que jamais encontraria a imaginação e sentou-se para descansar.
Diante dele havia um campo cheio de trigo que se movia com o vento e a cada ondulação surgiam desenhos de duendes, fadas, aviões, trens, carruagens de ouro que levavam princesas a bailes encantados.O bater das folhas e dos ramos, parecia uma música que vinha das entranhas da terra.
A imaginação, pela primeira vez, se divertia com o sábio.Ele , correu para casa abriu a biblioteca, tirou o pó das prateleiras e destampou as caixas.
A primeira palavras a sair foi liberdade e depois atropeladas, saíram todas.Emaranhavam-se pelas barbas do sábio; algumas preguiçosas e lentas, outras divertidas e descaradas e outras ousadas meteram-se pelos ouvidos do sábio dizendo-lhes segredos que ninguém sabia.
Dentro do sábio amontoaram-se histórias, se organizaram sons, frases, versos.Entretanto faltava uma voz.Sem ela , as palavras não podiam sair e brincar com o ar.
Faltava que aqueles contos recebessem vida e se emocionassem com os sons carregados de sentimentos.
Contam que não se soube nunca de onde veio.
Contam que um ser com a voz cheia de sóis e de luas, de estrelas , de mares e de arco-íris apareceu para cantar e contar as palavras do sábio.
Contam que há muitos séculos nasceu o primeiro narrador oral ou contador de histórias.


(história enviada por Amauri de Oliveira)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Um amor de confusão

Dona galinha um ovo botou.
Mas, quando foi passear, outros dois ovos no caminho ela encontrou.
Um ovo mais dois ovos, com três ovos ela ficou.
Dona galinha os três ovos em seu ninho colocou.
Mas, quando foi passear, outros dois ovos no caminho ela encontrou.
Três ovos mais dois ovos, com cinco ovos ela ficou.
Dona galinha os cinco ovos em seu ninho colocou.
Mas, quando foi passear, mais três ovinhos ela encontrou.
Cinco ovos mais três ovos, com oito ovos ela ficou.
Dona galinha os oito ovos em seu ninho arrumou.
Mas, quando foi passear, mais um ovo ela achou, com nove ovos ela ficou.
Dona galinha os nove ovos em seu ninho ajeitou.
Mas, quando foi passear, um ovo enorme ela encontrou.
Nove ovos mais um ovo, com dez ovos ela acabou. E, com paciência e carinho, os dez ovos dona galinha chocou.
Mas que surpresa não foi, no dia em que os ovos se abriram.
Vocês nem podem imaginar os bichos que das cascas saíram.
Nasceu ganso, pato, marreco e tartaruga.
Apareceu codorna, perdiz, pintinho e até um jacaré.
Agora eu só quero ver a confusão que vai ser na hora que essa turma sair para comer...

Dulce Rangel
(História enviada por Neusa Lúcia Braga Cia)

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

A MARGARIDA FRIORENTA


(Fernanda Lopes de Almeida)

Era uma vez uma margarida em um jardim.
Quando ficou de noite a margarida começou a tremer.
Ai passou a Borboleta Azul. A borboleta parou de voar.
- Por que você esta tremendo?
- Frio!
- Oh! E horrível ficar com frio! E logo em uma noite tão escura!
A Margarida deu uma espiada na noite.E se encolheu nas suas folhas.
A Borboleta teve uma idéia:
- Espere um pouco! E voou para o quarto de Ana Maria.
-Psiu, acorde
-Ah? E você, Borboleta? Como vai?
- Eu vou bem. Mas a Margarida vai mal.
- O que e que ela tem?
- Frio coitada!
- Então já sei o remédio. É trazer a Margarida para o meu quarto.
- Vou trazer já.
A Borboleta pediu ao cachorro Moleque:
- Você leva esse vaso para o quarto da Ana Maria?Moleque era muito inteligente e levou o vaso muito bem.
Ana Maria abriu a porta para eles. E deu um biscoito para Moleque.
A Margarida ficou na mesa de cabeceira.Ana Maria se deitou.Mas ouviu um barulhinho. Era o vaso balançando. A Margarida estava tremendo!
- Que e isso?
- Frio!
- Ainda? Então já sei! Vou arranjar um casaquinho para você.Ana Maria tirou o casaquinho da boneca. Porque a boneca não estava com frio nenhum.E vestiu o casaquinho na Margarida.
- Agora, você esta bem. Durma e sonhe com os anjos.
Mas quem sonhou com os anjos foi Ana Maria. A Margarida continuou a tremer.Ana Maria acordou com o barulhinho
Outra vez? Então já sei. Vou arranjar uma casa para você!
E Ana Maria arranjou uma casa para Margarida.Mas quando ia adormecendo ouviu outro barulhinho...
Era a Margarida tremendo.
Então Ana Maria descobriu tudo.
Foi lá e deu um BEIJO na Margarida.
A Margarida parou de tremer.
E dormiram muito bem a noite toda.
No dia seguinte Ana Maria disse para a Borboleta Azul:
-Sabe Borboleta? O frio da Margarida não era frio de casaco não!
E a Borboleta respondeu:
- Ah! Entendi!

POR QUE O CACHORRO É INIMIGO DE GATO...E GATO DE RATO


Antigamente todos os bichos eram amigos e o leão governava todos. Cachorro, gato, rato, ovelha, onça, raposa, timbu, pinto, tudo vivia junto e sem briga.

Uma feita Nosso Senhor mandou o leão libertar os bichos, passando carta de alforria a todos, para que pudessem ir onde quisessem. Havia muita contenteza. O leão chamou os bichos mais ligeiros e entregou as cartas de liberdade para ir dando aos outros animais.

Chamou o gato e deu a ele a carta de alforria do cachorro. O gato saiu numa carreira danada. No caminho encontrou o rato que estava entretido bebendo mel de abelhas.

- Camarada gato! Para onde vai nesse desadoro?

- Vou entregar essa carta ao camarada cachorro!

- Deixe de vexame! Descanse e beba esse melzinho gostoso.

O gato foi lamber o mel e tanto lambeu e gostou que acabou enfarado e dormindo. O rato, de curioso, foi cascavalhar a bruaca que o gato trazia a tiracolo e encontrou uns papéis. Meteu o dente, roendo, roendo, roendo, e deixou tudo virado em bagaço. Vendo que fizera uma desgraça, fez um bolo e sacudiu dentro da bruaca do gato e ganhou a mata.

O gato, acordando, largou numa carreira "timive" até encontrar o cachorro, a quem entregou o papel. O cachorro foi ler e viu que tudo estava esbagaçado e roído. Não podia provar ao homem que era bicho-livre e ficou zangado de ferro e fogo com o gato, dando uma carreira atrás dele para matá-lo. O gato, por sua vez, sabendo que aquilo era trabalho do rato, não procurou coisa senão passar-lhe o dente para vingar-se.

E até hoje, cachorro, gato e rato, são inimigos até debaixo dágua.

(Cascudo, Luís da Câmara. Contos tradicionais do Brasil enviado por Amauri de Oliveira)