sábado, 26 de setembro de 2009

A JOANINHA QUE PERDEU SUAS PINTINHAS



Tininha era uma pequena joaninha que passeava sozinha e ao atravessar um rio escorregou num galho e caiu nas águas e começou a gritar:
- Socorro, socorro...
Ela não sabia nadar e se debatia nas águas, e acabou virando as asas para baixo e começou a remar.
Quando alcançou a margem começou a caminhar, pois precisava voltar para casa senão sua mãe ficaria preocupada.
Ao chegar começou a gritar:
- Oi mamãe, já voltei!
-Nunca mais vou me atrasar.
-Por favor, mamãe, fale comigo, eu quero te abraçar!
E sua mamãe lhe disse:
- Você não é minha filha, não queira me enganar.
- Minha filha é pintadinha, volte já para o seu lugar.
Foi neste momento que ela percebeu que estava sem suas pintinhas.
Então tininha ficou muito assustada e começou a chorar,
Precisava de suas pintinhas, para poder voltar para sua casa.
Então voltou logo para o rio, na esperança de encontrar todas as pintas das asas que ela perdeu ao nadar.
Subiu numa folha verde e foi navegando pelo rio.
E todos que encontrava, parava para perguntar:
-Você viu as pintinhas que estavam nas minhas asinhas?
- Se você encontrar , faça o favor de me avisar.
Passou embaixo da ponte, viu peixinhos, parou para admirar a natureza, e nem viu o tempo passar.
Viu o sol se esconder...
E o céu todo a se estrelar.
E voltou a navegar.
E só se deu conta de si quando foi lançada ao mar...
- Onde estou?
- Que água é essa que só fica balançando?
Agora é muito mais difícil, as minhas pintinhas encontrar.
Saiu andando na areia, de cabeça baixa, triste e chorando.
Acabou se esbarrando num sapato e ergueu sua cabecinha, era um jovem pintor que estava pintando um quadro do mar, tinha um barco lá no fundo, gaivotas a voar.
O pintor pegou tininha e pôs na palma da mão e disse:
- Você não é borboleta...
- Você não é camarão...
- Você não é siri...
- Quem é você então?
- Sou apenas uma joaninha que perdeu as pintinhas, disse ela ao pintor.
- Se você não me ajudar, não posso voltar para casa.
E o pintor muito cuidadoso começou a trabalhar. Tinha um sério compromisso; ajudar a joaninha.
Com a tinta e o pincel começou a desenhar as pintinhas de suas asas.
Quando estava retornando sua amiga inseparável correu na frente para avisar:
- Dona Joana, dona Joana, sua filha está chegando.
E assim foi preparada a grande festa para comemorar a sua volta ao querido lar.
E a sua mãe ela foi correndo abraçar.



Ducarmo Paes – Ed Noovha América
Adaptação: JOJOBA – 16-09-09

A lenda do guaraná


Roberval Cardoso

Das tribos da Munducurucânia, eram os mais prósperos — os maués. Venciam as guerras, as colheitas eram fartas, as peças abun­dantes e as doenças raras.
Todo esse bem-estar, diziam eles, decorria da presença de um certo curumim (menino) que há alguns anos nascera na tribo, e, por isso, a atenção e cuidados que lhe dispensavam eram enormes; se ia à pesca, sua igarité era acompanhada de outras, com hábeis pescadores, que o desviavam das águas infestadas de piranhas, jacarés ou puraquês; se entrava na mata, mateiros experimentados o afas­tavam das castanheiras em safra ou dos ninhos de tocandiras assa­nhadas.
Mas, um dia, a vigilância foi burlada... Jurupaí, o génio do mal, disfarçado em cascavel, feriu o curumim, num bote certeiro.
A tribo entrou em grandes lamentações e durante horas seguidas as preces e os gritos de desespero se espalharam pelas florestas e águas negras do Maué-açu.
Tupã atendeu as lamentações e uma voz, que não se sabe de onde veio, determinou:
— Tirem os olhos da criança, plantem na "terra firme", reguem com lágrimas e deles nascerá a "planta da vida", aquela que fortale­cerá os jovens e revigorará os velhos...
Os pajés arrancaram e plantaram os olhos do curumim morto. Durante quatro luas, os guardas da preciosa sementeira velaram e re­garam a terra com lágrimas.
Uma nova planta surgiu, travessa como os curumins, procuran­do subir às árvores próximas, de hastes escuras e sulcadas como os músculos dos guerreiros. E quando frutificou, seus frutos de negro azeviche, envoltos no arilo branco e embutido em duas cápsulas vermelho-vivas, eram sem dúvida a multiplicação milagrosa dos olhos do príncipe maué.
E ela realmente trouxe o progresso da tribo, pelo abundante comércio de seus grãos, e os sábios confirmaram a lenda — fortalece, os fracos, conserva os jovens, rejuvenesce os velhos.



Retirado do livro Estarias e lendas da Amazónia. Seleção e introdução de Anísio Mello, Edigraf.