quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A Galinha Ruiva

Era uma vez uma galinha ruiva, que morava com seus pintinhos numa fazenda.

Um dia ela percebeu que o milho estava maduro, pronto para ser colhido e virar um bom alimento.

A galinha ruiva teve a idéia de fazer um delicioso bolo de milho. Todos iam gostar!

Era muito trabalho: ela precisava de bastante milho para o bolo. Quem podia ajudar a colher a espiga de milho no pé?

Quem podia ajudar a debulhar todo aquele milho?

Quem podia ajudar a moer o milho para fazer a farinha de milho para o bolo?

Foi pensando nisso que a galinha ruiva encontrou seus amigos:

- Quem pode me ajudar a colher o milho para fazer um delicioso bolo?

- Eu é que não, disse o gato. Estou com muito sono.

- Eu é que não, disse o cachorro. Estou muito ocupado.

- Eu é que não, disse o porco. Acabei de almoçar.

- Eu é que não, disse a vaca. Está na hora de brincar lá fora.

Todo mundo disse não.

Então, a galinha ruiva foi preparar tudo sozinha: colheu as espigas, debulhou o milho, moeu a farinha, preparou o bolo e colocou no forno.

Sempre perguntando quem ajudaria e sempre tendo as mesmas respostas:

- Eu é que não, disse o gato. Estou com muito sono.

- Eu é que não, disse o cachorro. Estou muito ocupado.

- Eu é que não, disse o porco. Acabei de almoçar.

- Eu é que não, disse a vaca. Está na hora de brincar lá fora.

Quando o bolo ficou pronto ... Aquele cheirinho bom de bolo foi fazendo os amigos se chegarem. Todos ficaram com água na boca. Então a galinha ruiva disse:

- Quem foi que me ajudou a colher o milho, preparar o milho, para fazer o bolo?

Todos ficaram bem quietinhos. ( Ninguém tinha ajudado.)

- Então quem vai comer o delicioso bolo de milho sou eu e meus pintinhos, apenas. Vocês podem continuar a descansar olhando.

E assim foi: a galinha e seus pintinhos aproveitaram a festa, e nenhum dos preguiçosos foi convidado

domingo, 25 de janeiro de 2009

Fátima, a Fiandeira



Numa cidade do mais longínquo Ocidente, vivia uma jovem chamada Fátima, filha de um próspero fiandeiro.
Um dia o pai lhe disse:
- Vem, filha, faremos uma viagem, pois tenho negócios a resolver nas ilhas do mar Mediterrâneo. Talvez encontres por lá algum jovem atraente, de boa posição, com quem poderias casar.
Puseram-se a caminho e viajaram de ilha em ilha; o pai cuidando de seus negócios, enquanto Fátima sonhava com o marido que logo poderia ter. Mas um dia, quando estavam a caminho de Creta, levantou-se uma tempestade e o barco naufragou. Fátima semiconsciente, foi arrastada a uma praia perto de Alexandria.
Seu pai tinha morrido e ela ficou totalmente desamparada. Podia recordar-se apenas vagamente de sua vida até aquele momento, pois a experiência do naufrágio, e o fato de ter ficado exposta às inclemências do mar, tinham-na deixado completamente exausta.
Quando vagava na areia, uma família de tecelões a encontrou. Embora fossem pobres, levaram-na para sua casa humilde e ensinaram-lhe seu ofício. Desse modo, Fátima iniciou uma nova vida, e dentro de um ou dois anos voltou a ser feliz, reconciliada com sua sorte. Porém, um dia, quando estava na praia, um bando de mercadores de escravos desembarcou e a levou, junto com outros cativos.
Apesar de Fátima lamentar-se amargamente por seu destino, eles não demonstraram nenhuma compaixão: levaram-na para Istambul e a venderam como escrava. Seu mundo tinha desmoronado pela segunda vez.
No mercado havia poucos compradores. Um deles era um homem que procurava escravos para trabalhar em sua serraria, onde fabricava mastros para embarcações. Quando viu o abatimento da infeliz Fátima, decidiu comprá-la pensando que poderia proporcionar-lhe uma vida um pouco melhor do que teria nas mãos de outro comprador.
Levou Fátima para casa, com a intenção de fazer dela uma criada para sua esposa. Ao chegar, soube que tinha perdido todo o seu dinheiro quando um carregamento fora capturado por piratas. Não podia enfrentar as despesas que lhe davam os empregados, e assim ele, Fátima e sua mulher arcaram sozinhos com a pesada tarefa de fabricar mastros.
Fátima, grata ao seu patrão por tê-la resgatado, trabalhou tão arduamente e tão bem que ele lhe deu a liberdade e ela passou a ser sua auxiliar de confiança. Assim, chegou a ser relativamente feliz em sua terceira profissão.
Um dia, ele lhe disse:
_ Fátima, quero que vás a Java, como minha agente, com um carregamento de mastros, procura vendê-los com lucro.
Ela se pôs a caminho, mas, quando o barco estava diante da costa chinesa, um tufão o fez naufragar. Mais uma vez Fátima se viu jogada na praia de um país desconhecido. De novo chorou amargamente, porque sentia que em sua vida nada acontecia como esperava. Sempre que tudo parecia andar bem, acontecia algo que destruía suas esperanças.
_ Porque será – perguntou pela terceira vez – que sempre que tento fazer alguma coisa ela não dá certo? Por que devo passar por tantas desgraças?
Como não teve respostas, levantou-se da areia e afastou-se da praia.
Ninguém na China tinha ouvido falar de Fátima e de seus problemas. Mas existia uma lenda de que chegaria certa mulher estrangeira, capaz de fazer uma tenda para o imperador. Como naquela época não existia ninguém na China que soubesse fazer tendas, todo mundo aguardava com ansiedade o cumprimento da profecia.
Para ter certeza de que a estrangeira, ao chegar, não passaria sem ser notada, uma vez por ano os sucessivos imperadores da China costumavam mandar seus mensageiros a todas as cidades e aldeias do país, pedindo que toda mulher estrangeira fosse levada à corte.
Exatamente, numa dessas ocasiões, esgotada, Fátima chegou a uma cidade costeira da China. Os habitantes do lugar falaram com ela através de um intérprete, e lhe explicaram que devia ir à presença do imperador.
_ Senhora – disse o imperador quando Fátima foi levada até ele – sabe fabricar uma tenda?
_ Acho que sim – respondeu a moça.
Pediu cordas, mas não tinham. Lembrando-se dos seus tempos de fiandeira, Fátima então colheu linho e fabricou-as. Depois pediu um tecido resistente, mas os chineses não tinham do tipo que ela precisava. Então, utilizando suas experiências com os tecelões de Alexandria, fabricou um tecido forte, próprio para tendas. Percebeu que precisava de estacas para a tenda, mas não existiam no país. Lembrando-se do que lhe ensinara o fabricante de mastros em Istambul, Fátima fabricou umas estacas firmes. Quando tudo estava pronto, deu tratos à bola procurando lembrar de todas as tendas que tinha visto em suas viagens. E uma tenda foi construída.
Quando a maravilha foi mostrada ao imperador da China, ele se prontificou a satisfazer qualquer desejo que Fátima expressasse. Ela quis morar na China, se casou com um belo príncipe e, rodeada por seus filhos, viveu muito feliz até o fim de seus dias.
Através dessas aventuras, Fátima compreendeu que o que em cada ocasião lhe tinha parecido ser uma experiência desagradável, acabou sendo parte essencial para a sua felicidade.


(“Fátima, a Fiandeira” é uma história-ensinamento, retirada do livro “Histórias da Tradição Sufi”, Edições Dervish. )

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O Burro



Autor desconhecido

No tempo em que não havia automóveis, na cocheira de um famoso palácio real, um burro de carga curtia imensa amargura, em vista das pilhérias dos companheiros de apartamento.
Reparando-lhe o pêlo maltratado, as fundas cicatrizes do lombo e a cabeça tristonha e humilde, aproximou-se formoso cavalo árabe que se fizera detentor de muitos prêmios, e disse, orgulhoso: - Triste sina a que recebeste! Não invejas minha posição em corridas?
Sou acariciado por mãos de princesas e elogiado pela palavra dos reis!
- Pudera! - exclamou um potro de fina origem inglesa:
- Como conseguirá um burro entender o brilho das apostas e o gosto da caça? O infortunado animal recebia os sarcasmos, resignadamente.
Outro soberbo cavalo, de procedência húngara, entrou no assunto e comentou:
- Há dez anos, quando me ausentei de pastagem vizinha, vi este miserável sofrendo rudemente nas mãos do bruto amansador.
É tão covarde que não chegava a reagir, nem mesmo com um coice.
Não nasceu senão para carga e pancadas. É vergonhoso suportar-lhe a companhia.
Nisto, admirável jumento espanhol acercou-se do grupo, e acentuou sem piedade:
- Lastimo reconhecer neste burro um parente próximo.
É animal desonrado, fraco, inútil, não sabe viver senão sob pesadas disciplinas.
Ignora o aprumo da dignidade pessoal e desconhece o amor-próprio.
Aceito os deveres que me competem até o justo limite; mas se me constrangem a ultrapassar as obrigações, recuso-me à obediência, pinoteio e sou capaz de matar.
As observações insultuosas não haviam terminado, quando o rei penetrou o recinto, em companhia do chefe das cavalariças.
- Preciso de um animal para serviço de grande responsabilidade, informou o monarca, um animal dócil e educado, que mereça absoluta confiança. O empregado perguntou:
- Não prefere o árabe, Majestade?
- Não, não - falou o soberano, é muito altivo e só serve para corridas em festejos oficiais sem maior importância.
- Não quer o potro inglês?
- De modo algum. É muito irrequieto e não vai além das extravagâncias da caça.
- Não deseja o húngaro?
- Não, não. É bravio, sem qualquer educação. É apenas um pastor de rebanho.
- O jumento espanhol serviria? - insistiu o servidor atencioso.
- De maneira nenhuma. É manhoso e não merece confiança.
Decorridos alguns instantes de silêncio, o soberano indagou:
- Onde está meu burro de carga?
O chefe das cocheiras indicou-o, entre os demais.
O próprio rei puxou-o carinhosamente para fora,
mandou ajaezá-lo com as armas resplandecentes de sua Casa e confiou-lhe o filho ainda criança, para longa viagem.
E ficou tranqüilo, sabendo que poderia colocar toda a sua confiança naquele animal...

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Tanto quanto o sal


Um rei tinha três filhas; perguntou a cada uma delas por sua vez, qual era a mais sua amiga. A mais velha respondeu:
– Quero mais a meu pai, do que à luz do Sol.
Respondeu a do meio:
– Gosto mais de meu pai do que de mim mesma.
A mais moça respondeu:
– Quero-lhe tanto, como a comida quer o sal.
O rei entendeu por isto que a filha mais nova o não amava tanto como as outras, e pô-la fora do palácio. Ela foi muito triste por esse mundo, e chegou ao palácio de um rei, e aí se ofereceu para ser cozinheira. Um dia veio à mesa um pastel muito bem feito, e o rei ao parti-lo achou dentro um anel muito pequeno, e de grande preço. Perguntou a todas as damas da corte de quem seria aquele anel. Todas quiseram ver se o anel lhes servia: foi passando, até que foi chamada a cozinheira, e só a ela é que o anel servia. O príncipe viu isto e ficou logo apaixonado por ela, pensando que era de família de nobreza.
Começou então a espreitá-la, porque ela só cozinhava às escondidas, e viu-a vestida com trajos de princesa. Foi chamar o rei seu pai e ambos viram o caso. O rei deu licença ao filho para casar com ela, mas a menina tirou por condição que queria cozinhar pela sua mão o jantar do dia da boda. Para as festas de noivado convidou-se o rei que tinha três filhas, e que pusera fora de casa a mais nova. A princesa cozinhou o jantar, mas nos manjares que haviam de ser postos ao rei seu pai não botou sal de propósito. Todos comiam com vontade, mas só o rei convidado é que não comia. Por fim perguntou-lhe o dono da casa, porque é que o rei não comia? Respondeu ele, não sabendo que assistia ao casamento da filha:
– É porque a comida não tem sal.
O pai do noivo fingiu-se raivoso, e mandou que a cozinheira viesse ali dizer porque é que não tinha botado sal na comida. Veio então a menina vestida de princesa, mas assim que o pai a viu, conheceu-a logo, e confessou ali a sua culpa, por não ter percebido quanto era amado por sua filha, que lhe tinha dito, que lhe queria tanto como a comida quer o sal, e que depois de sofrer tanto nunca se queixara da injustiça de seu pai.


Teófilo Braga

Contos Tradicionais do Povo Português(1883)

sábado, 17 de janeiro de 2009

Por que o Sol e a Lua vivem no céu

Um Conto Nigeriano
Tempos atrás, o Sol e a Água viviam na terra e eram grandes amigos. O Sol visitava a Água frequentemente, mas a Água nunca retornava as visitas.Um dia, o Sol perguntou à Água por que ela nunca o visitava. A Água respondeu que a casa do Sol não era grande o suficiente e, se todo o povo da água fosse vistá-lo, acabaria por tirá-lo de lá. Disse ao amigo: "Se você quer a minha visita, deve construir um enorme cômodo mas, aviso, deve ser muito, muito grande, pois meu povo é muito numeroso e precisa e muitas acomodações".

O Sol prometeu construir um enorme cercado e, em seguida, foi encontrar sua mulher, a Lua,que o recebeu com um largo sorriso assim que ele abriu a porta. O Sol contou, então, o que havia prometido à Água. No dia seguinte, começou a construção de um grande cercado, no qual receberia sua amiga. Ao final da construção, convidou a Água e todo o seu povo para ir visitá-lo.

Quando a Água chegou, chamou pelo Sol e perguntou se estava seguro para sua entrada. O Sol respondeu: "Sim minha amiga, entre". A Água, então, começou a fluir, acompanhada pelos peixes e todos os animais aquáticos...

Logo, a Água estava na altura dos joelhos. Perguntou ao Sol se permanecia seguro e o ele respondeu mais uma vez: "Sim!" Então, mais água entrou... Quando estava na altura do topo da cabeça de um homem, ela tornou a perguntar ao Sol: "Você quer a visita de mais do meu povo?" O Sol e a Lua responderam "Sim!"

Então Água entrou, enquanto o Sol e a Lua tiveram que subir no topo do telhado. Mais uma vez a Água consultou o Sol e recebeu a mesma resposta...e mais do seu povo entrou enchendo até o topo do telhado.

O SOL E A LUA FORAM FORÇADOS A SUBIR ATÉ O CÉU, ONDE PERMANECEM ATÉ HOJE.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O homem preguiçoso


Era uma vez um homem que não gostava de trabalhar.

Um dia, estava já tão farto de não conseguir trabalhar, que resolveu que queria ser enterrado.

Ia o enterro a passar, com o caixão ainda aberto e o morto ainda vivo, portanto, a respirar... e toda a gente compungida, a chorar... enfim.

Nisto, passou o homem rico e perguntou:

- O que é isto?!

Lá lhe explicaram e ele disse:

- Parem o enterro! Eu sustento o morto.

Pararam o enterro e o homem rico prometeu que ia sustentar o preguiçoso durante toda a vida.

- Eu dou-lhe o pão. Parem o enterro!

Nisto, o defunto senta-se no caixão, deita a cabeça de fora e pergunta ao homem rico:

- E esse pão que me dá lá, vem mastigadinho já?

Surpreendido, o homem rico diz:

- Não, isso não! Dou-lhe o pão durante toda a vida, mas não o mastigo, isso não, era o que faltava.

Enfadado, o defunto faz um gesto com a mão, volta a recostar-se e diz:

- Então, siga o enterro!


Conto popular

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O Rei e a omelete


Era uma vez um rei que tinha todos os poderes e tesouros da Terra, mas apesar disso não se sentia feliz e a cada ano ficava mais melancólico. Um dia ele chamou o seu cozinheiro preferido e disse:
_ "Você tem cozinhado muito bem para mim e tem trazido para a minha mesa as melhores iguarias, de modo que eu lhe sou agradecido. Agora, porém, quero que você me dê uma última prova de sua arte. Você deve me preparar uma omelete de amoras iguais àquelas que eu comi há cinqüenta anos, na infância. Naquele tempo, meu pai tinha perdido a guerra contra o reino vizinho e nós precisamos fugir: viajamos dia e noite através da floresta, onde afinal acabamos nos perdendo. Estávamos famintos e cansadíssimos, quando chegamos a uma cabana onde morava uma velhinha que nos acolheu generosamente. Ela preparou para nós uma omelete de amoras,quando a comi, fiquei maravilhado: a omelete era deliciosa e me trouxe novas esperanças ao coração. Na época eu era criança, não dei importância à coisa. Mais tarde, já no trono, vasculhei todo o reino, porém não foi possível localizá-la. Agora quero que você me atenda esse desejo: faça uma omelete de amoras igual à dela. Se você conseguir, eu lhe darei ouro e o designarei meu herdeiro, meu sucessor no trono. Se você não conseguir, entretanto, mandarei matá-lo".
Então, o cozinheiro falou:
_"Senhor, pode chamar imediatamente o carrasco. É claro que eu conheço todo o segredo da preparação de uma omelete de amoras, sei empregar todos os temperos. Conheço as palavras mágicas que devem pronunciadas enquanto os ovos são batidos e a melhor técnica para batê-los. Mas não me impedirá de ser executado, porque a minha omelete jamais será igual à da velhinha. Ela não terá o sabor picante do perigo, a emoção da fuga, não será comida com o sentido alerta do perseguido, não terá a doçura inesperada da hospitalidade calorosa e do ansiado repouso, enfim conseguido. Não terá o sabor do presente estranho e do futuro incerto".
Assim falou o cozinheiro. O rei ficou calado, durante algum tempo. Não muito mais tarde, consta que lhe deu muitos presentes, tornou-o um homem rico e despediu-o do serviço real.


Walter Benjamim

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Como Nasrudin criou a verdade


"Estas leis não tornam melhores as pessoas", disse Nasrudin ao Rei; "elas devem praticar certas coisas de forma a sintonizarem-se com a verdade interior, que se assemelha apenas levemente à verdade aparente."
O Rei decidiu que poderia fazer que as pessoas observassem a verdade – e o faria. Ele poderia fazê-las praticar a autenticidade.
O acesso a sua cidade era feito por uma ponte, sobre a qual o Rei ordenou que fosse construída uma forca.
Quando os portões foram abertos ao alvorecer do dia seguinte, o Capitão da Guarda estava postado à frente de um pelotão para averiguar todos os que ali entrassem.
Um édito foi proclamado: "Todos serão interrogados. Aquele que falar a verdade terá seu ingresso permitido. Se mentir, será enforcado."
Nasrudin deu um passo à frente.
"Aonde vai?"
"Estou a caminho da forca", respondeu Nasrudin calmamente.
"Não acreditamos em você!"
"Muito bem, se estiver mentindo, enforquem-me!"
"Mas se o enforcarmos por mentir, faremos com que aquilo que disse seja verdade!"
"Isso mesmo: agora sabem o que é a verdade: a sua verdade!"


Do livro: Histórias de Nasrudin - Edições Dervish

domingo, 4 de janeiro de 2009

A casa feita de sonho


Leve como uma pluma,
alta como uma torre,
quente como um ninho
e doce como o mel,
assim imaginei
desde pequeno
a minha casa…


Mais tarde, quando me encontrei só no mundo, como não tinha dinheiro, resolvi construí-la com as próprias mãos. Fiz primeiro a minha casa de papel, que é um material barato.
E assim que ficou pronta, vieram todos os ventos da Terra e levaram a minha casa de papel, leve como uma pluma…
Fiquei sem casa, mas não desisti. E fiz a minha casa à beira-mar, com areia da praia, que é um material barato.
Mal estava pronta, vieram todas as marés do mundo e levaram a minha casa de areia, alta como uma torre…
Deu-me vontade de desistir, mas eu precisava de uma casa, e sobretudo não podia abandonar o meu sonho.
E resolvi fazer a minha casa de madeira, que é um material barato. Cortei-a dos bosques, com as próprias mãos!
Ficou linda!… Escondida entre a folhagem…
Mas ainda mal a tinha acabado, vieram todos os fogos do céu e queimaram a minha casa de madeira, quente como um ninho… Chorei sobre as cinzas, como se chora uma pessoa querida que morreu.
Mas, mesmo assim, não desisti. E resolvi fazer a minha casa de açúcar…
Mas o açúcar não é um material barato! Pois não…
Mas eu precisava de uma casa, e sobretudo, não podia abandonar o meu sonho.
Trabalhei, lutei, passei fome, para juntar o açúcar suficiente…
E quando a minha casa estava pronta — eram de açúcar as paredes, o chão, o tecto, os móveis, as portas e as janelas — vieram todos os bichos da Terra e devoraram a minha casa de açúcar, doce como o mel…
Fiquei sem casa. E desisti de construí-la com as próprias mãos…
Perguntam-me onde moro… Onde moro eu? Sei lá!… Vou pelo mundo, aqui, além, no bosque, à beira-mar… Perguntam-me se não tenho casa… Tenho, sim! Eu podia lá abandonar o meu sonho!…
Resolvi imaginá-la. Num sítio onde não chega o vento, nem o mar, nem o fogo, nem os bichos da Terra.
Fiz a minha casa com o meu próprio sonho. Ficou linda!
Leve como uma pluma, alta como uma torre, quente como um ninho e doce como o mel…



Adaptação
Ricardo Alberty
A casa feita de sonho
Melhoramentos de Portugal, 1991

sábado, 3 de janeiro de 2009

Onde você coloca o sal?


O velho Mestre pediu a um jovem triste que colocasse uma mão cheia de sal em um copo d'água e bebesse.

- Qual é o gosto? - perguntou o Mestre.

- Ruim - disse o aprendiz.

O Mestre sorriu e pediu ao jovem que pegasse outra mão cheia de sal e levasse a um lago. Os dois caminharam em silêncio e o jovem jogou o sal no lago. Então o velho disse:

- Beba um pouco dessa água.

Enquanto a água escorria do queixo do jovem o Mestre perguntou:

- Qual é o gosto?'

- Bom! disse o rapaz.

- Você sente o gosto do sal? perguntou o Mestre.

- Não... -disse o jovem.

O Mestre então, sentou ao lado do jovem, pegou em suas mãos e disse:

- A dor na vida de uma pessoa não muda. Mas o sabor da dor depende de onde a colocamos. Quando você sentir dor, a única coisa que você deve fazer é aumentar o sentido de tudo o que está a sua volta. É dar mais valor ao que você tem, do que ao que você perdeu.

Em outras palavras: É deixar de Ser copo para tornar-se um Lago.

Somos o que fazemos, mas somos principalmente, o que fazemos para mudar o que somos..

Fraqueza ou Força?


Um garoto de 10 anos de idade decidiu praticar judô, apesar de ter perdido seu braço esquerdo em um terrível acidente de carro.

Disposto a enfrentar as dificuldades e sua limitações, começou as lições comum velho mestre japonês.

O menino ia muito bem. Mas, sem entender o porquê, após três meses de treinamento, o mestre tinha-lhe ensinado somente um movimento. O garoto então disse:

- Mestre, não devo aprender mais movimentos?

O mestre respondeu ao menino, calmamente e com convicção:

- Este é realmente o único movimento que você sabe, mas este é o único movimento que você precisará saber.

Sem entender completamente, mas acreditando em seu mestre, o menino manteve-se treinando. Meses mais tarde, o mestre inscreveu o menino em seuprimeiro torneio.

Surpreendendo-se, o menino ganhou facilmente seus primeiros dois combates.

O terceiro combate revelou ser o mais difícil, mas depois de algum tempo seu adversário tornou-se impaciente e agitado. Foi então que o menino usou o seu único movimento para ganhar a luta.

Espantado ainda por seu sucesso, o menino estava agora nas finais dotorneio. Desta vez, seu oponente era bem maior, mais forte, e mais experiente.

Preocupado com a possibilidade do garoto se machucar, cogitaram em cancelara luta, quando o mestre interveio:

- De forma alguma! Deixe-o continuar.

Desta forma, o garoto, usando os ensinamentos do mestre, entrou pra luta e,quando teve oportunidade, usou seu movimento para prender o adversário.

Foi assim que o menino ganhou a luta e o torneio. Era o campeão.Mais tarde, em casa, o menino e o mestre reviram cada movimento em cadaluta. Então, o menino criou coragem para perguntar o que estava realmente em sua mente:

- Mestre, como eu consegui ganhar o torneio com somente um movimento?

- Você ganhou por duas razões - respondeu o mestre. - Em primeiro lugar,você dominou um dos golpes mais difíceis do judô. E em segundo lugar, aúnica defesa conhecida para esse movimento é o seu oponente agarrar seu braço esquerdo.

A maior fraqueza do menino tinha-se transformado em sua maior força...

Assim, também nós podemos usar nossa fraqueza para que ela se transforme em nossa força..

O que realmente importa é o poder da determinação


Autor Anônimo

O Vaga-lume


Os insetos, juntamente com os outros animais, também tinham ido à gruta de Belém para adorar o Menino Jesus. Para não assustar o recém nascido, ficaram apenas olhando da entrada da gruta. Mas o Menino Jesus fez um gesto com as mãozinhas rosadas, e os chamou.

Então, eles correram para ele, cada um levando o seu presente...

A abelha ofereceu-lhe seu doce mel, e a borboleta, a beleza das cores. Por sua vez, a formiga levou-lhe um grão de trigo, e a lagarta, um fio da mais fina seda.

A vespa, não sabendo o que oferecer, prometeu nunca mais dar ferroada em ninguém. A mosca ofereceu -se para velar o sono de Jesus, mas sem zumbidos desagradáveis ...

Só um inseto bem pequenino não teve coragem de chegar mais perto, porque não tinha nada para oferecer ao menino. Então, ficou lá quietinho, tímido, parado na entrada da gruta, mas com uma vontade enorme de ir lá perto de Jesus e dizer-lhe que também o amava.

Mas, quando, com o coração triste e a cabeça baixa, já estava para dar meia-volta e ir embora, escutou uma vozinha doce que o chamava:

- "Ei, você aí, pequeno inseto, por que não chega mais perto?" - perguntou Jesus.

Comovido, o inseto voou até a manjedoura e pousou na mãozinha do menino. Estava tão emocionado pela atenção recebida que seus olhos se encheram de lágrimas. Uma delas deslizou, grossa e brilhante, e foi cair justamente na palma da mão direita do Menino Jesus.

- Obrigado - disse a criança,sorrindo. - É um presente muito bonito.

Naquele momento, um raio de luar que espreitava pelo buraco da gruta iluminou a lágrima.

- Pronto! virou uma gotinha de luz ... - disse Jesus. - De hoje em diante vai levar para sempre com você este raio luminoso. E seu nome vai ser vaga-lume ...



Fonte: Belsky Lagazzi, Ines. Natal: tradições, histórias e curiosidades da festa mais esperada. Tra: Silvia Debetto C.Reis. São Paulo: Paulinas, 2002. 166 ps.