sábado, 30 de maio de 2009

A ciência da preguiça

Era uma vez um velho turco que tinha só um filho e gostava mais dele que da luz dos próprios olhos.Sabe-se que para os turcos o maios castigo que Deus impôs ao mundo é o trabalho; por isso, quando seu filho completou catorze anos, pensou em colocá-lo na escola, para que aprendesse o melhor método para não fazer nada.
No mesmo bairro do velho turco, morava um professor, conhecido e respeitado por todos, pois durante toda a vida só fizera aquilo que não pudera evitar de fazer. O velho turco foi visitá-lo e o encontrou no jardim, deitado à sombra de uma figueira, com uma almofada sob a cabeça, outra sob as costas e uma sob o traseiro. O velho turco disse consigo mesmo: “Antes de conversar com ele, quero ver como se comporta” , e se escondeu atrás de uma sebe para espiá-lo.
O professor estava imóvel como um morto, de olhos fechados, e só quando ouvia: tchac !, um figo maduro que caía ao alcance da mão, esticava o braço de mansinho, levava-o à boca e o engolia. Depois, de novo imóvel como um tronco, esperava que caísse outro.
“Este é justamente o professor que desejo para meu filho”, disse o turco consigo mesmo e, saindo do esconderijo, cumprimentou-o e lhe perguntou se estava disposto a ensinar a seu filho a ciência da preguiça.
-Amigo - falou o professor com um fio de viz -, não fale tanto, pois me canso de ouvi-lo. Se quer educar seu filho e fazer com que se torne um turco de verdade, mande-o aqui, e basta.
O velho turco voltou para casa, pegou o filho pela mão, enfiou-lhe uma almofada de penas debaixo do braço e levou-o àquele jardim.
-Recomendo-lhe - disse-lhe - que faça tudo o que vir fazer seu professor de ócio.
O moço, que já tinha inclinação por aquela ciência, deitou-se também embaixo da figueira e viu que o professor, toda vez que caía um figo, esticava um braço para colhê-lo e comê-lo. “Por que essa canseira de esticar o braço ?”, disse para si mesmo, e ficou deitado de boca aberta. Um figo caiu em sua boca e ele, lentamente, engoliu-o, e depois reabriu a boca. Outro figo caiu um pouco mais longe; ele não se moveu, mas disse, bem baixinho:
- Por que tão longe? Figo, caia na minha boca!
O professor, vendo quanto era esperto o estudante, disse:
- Volte para casa, pois não tem nada a aprender comigo, pelo contrário, sou eu quem deve aprender com você.
E o filho retornou ao pai, que agradeceu ao céu lhe ter dado um filho tão talentoso.

História enviada por Vera Lúcia Ravagnani

A Falsa Avó



Uma dona de casa tinha de peneirar a farinha. Mandou sua menina para a casa da avó, para que ela lhe emprestasse a peneira. A menina preparou o cestinho com a merenda: roscas e pão feito com óleo; e se pôs a caminho.

— Rio Jordão, me deixa passar?

— Sim, se me der suas roscas.

O rio Jordão era louco por roscas e se divertia com elas, fazendo-as girar em seus redemoinhos.

A menina chegou à Porta Gradeada.

— Porta gradeada, me deixa passar?

— Sim, se você me der o pão feito com óleo.

A Porta Gradeada era louca por pão com óleo, pois tinha as dobradiças enferrujadas, e o pão feito com óleo as untava.

A menina deu o pão com óleo à porta, e a porta se abriu e a deixou passar.

Chegou à casa da avó, mas a porta estava fechada.

— Vovó, vovó, abra para mim.

— Estou de cama, doente. Entre pela janela.

— Não alcanço.

— Entre pela gateira.

— Não passo

— Então espere.

— Jogou uma corda e a puxou pela janela.

O aposento estava escuro. Quem estava na cama era a Ogra, não a avó, pois a avó fora devorada inteirinha pela Ogra, da cabeça aos pés, menos os dentes, que pusera para cozinhar numa panelinha, e as orelhas, que pusera para fritar numa frigideira.

— Vovó, mamãe quer a peneira.

— Agora é tarde. Amanhã vou entregá-la para você. Venha para a cama.
— Vovó, estou com fome, primeiro quero comer.

— Coma os feijões que estão cozinhando na panelinha.

Na panelinha estavam os dentes.

A menina mexeu com a colher e disse:

— Vovó, estão muito duros.

— Então coma as fritadas que estão na frigideira.

Na frigideira estavam as orelhas. A menina tocou nelas com o garfo e disse:

— Vovó, não estão crocantes.

— Então venha para a cama. Comerá amanhã.

A menina subiu na cama, perto da avó. Tocou numa de suas mãos e disse:

— Por que tem as mão tão peludas, vovó?

— Por causa dos muitos anéis que usava nos dedos.

Tocou em seu peito.

— Por que tem o peito tão peludo, vovó?

— Por causa do monte de colares que usava no pescoço.
Tocou em seus quadris.

— Por que tem os quadris tão peludos, vovó?

— Porque usava um espartilho muito apertado.

Tocou em sua cauda e pensou que, com ou sem pêlos, a avó jamais tivera um rabo.

Aquela devia ser a Ogra e não sua avó. Então disse:

— Vovó, não consigo dormir se antes não fizer uma necessidade.
A avó disse:
— Vá fazer na estrebaria, faço você descer pelo alçapão e depois volto a puxá-la.

Amarrou-a com a corda e a baixou na estrebaria. Assim que se viu no chão, a menina se desamarrou e amarrou uma cabra na corda.
— Terminou? disse a avó.
— Espere um momentinho. Acabou de amarrar a cabra.

— Pronto, terminei, pode me puxar.

A Ogra puxa, puxa, e a menina começa a gritar:

— Ogra peluda! Ogra peluda!

Abre a estrebaria e foge. A Ogra puxa e aparece a cabra. Pula da cama e corre atrás da menina.

Na Porta Gradeada, a Ogra gritou de longe:

— Porta Gradeada, não a deixe passar!

Mas a porta gradeada disse:

— Claro que a deixo passar, pois me deu pão com óleo.

No rio Jordão, a Ogra gritou:

— Rio Jordão, não a deixe passar!

Mas o rio Jordão disse:

— Claro que a deixo passar, pois me deu roscas.

Quando a Ogra quis passar, o rio Jordão não baixou suas águas e a Ogra foi arrastada. Na margem, a menina fazia caretas para ela.

fábula "A Falsa Avó", do livro "Fábulas Italianas", de Italo Calvino

História enviada por Vera Lúcia Ravagnani

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Meu livro, meu amor



Miguel Ángel Fernández-Pacheco


Sei que você é bem velho,
que já viveu milhares de anos.
Sei que seu coração
anda por toda a parte,
bilhões de vezes repartido.

Em milhares de bibliotecas.
Sei que você foi proibido
muitas vezes
e queimado outras tantas.

Mas te amo,
como se você tivesse nascido ontem,
como se fosse só meu,
e sua salvação
só dependesse de mim.

Como poderia não te amar?
Afinal, já vivi tanto
de sua luz e sua sombra.
Já sonhei tantas vezes
com você entre as mãos.
Graças a você já escapei da dor
e pude enfrentar a injustiça.
E você acabou se convertendo
em toda a minha memória
e, o que ainda é melhor,
em toda a memória da minha espécie.

Por isso posso sentir
que te amei desde menino
E vou te amar para sempre.
Por isso posso gritar
que você é a melhor ferramenta
da minha liberdade
e da liberdade de todos.

Reconheço que devo parecer exaltado.
Admito que as pessoas sorriem
quando ouvem estas coisas...
Mas quando nos apaixonamos
somos assim.

Na verdade, não me envergonho,
Só tenho orgulho,
por estas noites sem dormir
passadas ao seu lado.
Por esse tremor, emocionado
cada vez que te descubro...
Por essa pena de te perder
e a alegria de te reencontrar,
e até pela ansiedade que me consome
se não tenho você à mão.

Confesso que a paixão me cega
se digo, de tudo o que os homens fizeram
Você é o melhor e o maior,
Meu livro,
Meu amor...


E falando em livro:

Oficina: Contação de Histórias
Livrão das Histórias

O que é?
Oficina de confecção e utilização do “Livrão de Histórias”, livro gigante cenográfico, também usado para contar e guardar a história. Será ministrada por Amauri de Oliveira, Roberto Isler e Renata de Paula da Cia Xekmat, direcionado para profissionais da área de educação, saúde, bibliotecas ou pessoas interessadas em aprender novas técnicas e materiais para contação de história.

Inscrições:
Pelos telefones:
(19)3463-7889 – (19)3463-3601 – 9767-2582 com Renata, Amauri ou Roberto.
ou pelos e-mails: amaurigoliver@ig.com.br e roberto_isler@yahoocom.br

Estrutura da oficina:
A oficina consiste em 03 horas de trabalho, entre utilização e confecção.
Com certificado. 13:00 às 16:00
Poucas vagas por turma

Serão trabalhados:
· Exemplo de utilização prática
· Confecção do livrão de histórias
· Técnicas de montagem, recorte.
· e colagem
· Apostila com histórias e dicas

Data do Curso:
23 de maio (sábado) de 2009

Materiais necessários:
Caixas grandes de papelão
Pistola de cola quente grande
Bastões de cola quente
Tesoura (boa) e estilete
Fita crepe
Tecido ou TNT (suficiente p/ encapar as caixas por dentro e por fora)
Caneta

Investimento no Curso:
R$ 40,00

Local do Curso:
A Casa Encantada: Ponto de Leitura do Ministério da Cultura, projeto para contação de histórias, em diferentes e divertidos ambientes. End: Avenida da Saudade, 707, esquina com Rua Ceará, V. Grega Santa Bárbara d’Oeste. SP.