A casa da minha infância
tinha quintal e porão
como só as casas de infância
sabem ter.
Era bem alta e amarela a casa da minha infância
e dava nítida impressão
de que era muito antiga
desde que fora feita.
E tinha uma varanda
a casa da minha infância
com uma escada branca ao lado
que subia
e torta,
parava,
subia
e chegava.
A casa da minha infância
tinha caramanchão
sobre o qual escoria
uma primavera vermelha
florindo e tingindo
a rua de paralelepípedos.
Lá dentro,
na casa da minha infância,
tinha sala de visitas
com um quadro de Jesus
vigiando.
Depois de jantar,
Leito ceia prateado,
Cristaleira e o rádio
R.C.A Victor,
sintonizando os programas
de Rádio Nacional do Rio de Janeiro,
Brasil
(patrocínio de casa maçom).
Tinha, ainda, copa,
quarto,
quarto, corredor, banheiro
quarto e cozinha,
fogão DAKO elétrico e
em cima,
a inscrição no pano de prato:
“Quando em seu coração reine a paz”.
a menor casa do mundo num palácio se faz.”
A casa da minha infância
tinha um jabuti,
um pé de limão
e uma parreira.
Mas tinha, sobretudo,
os mistérios da cortinas,
os segredos dos armários,
a sedução do toucador
e era imensa,
forte.
O mundo entrava timidamente
pela fresta da janela
na casa da minha infância.