segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Um ano de esperança

 




Ano novo é tudo novo
no sentimento da gente,
porém preserve do antigo
o que lhe empurrou pra frente
junte tudo que prestou
misture com muito amor
e faça um mundo diferente.

Preserve os beijos, os cheiros,
os chamegos de amor,
as gargalhadas mais altas,
as piadas que contou,
e se a tristeza apertar
basta você se lembrar
dos sorrisos que arrancou.

O meu ou o seu caminho
não são muito diferentes,
tem espinho, pedra, buraco
pra mode atrasar a gente.
não desanime por nada
pois até uma topada
empurra você pra frente!

Continue sendo forte
tenha fé no criador
fé também em você mesmo
não tenha medo da dor
siga em frente a caminhada
saiba que a cruz mais pesada
o fí de Deus carregou.


Baulio Bessa

sexta-feira, 25 de junho de 2021

São Pedro e o Diabo


São Pedro morava perto da casa do diabo. Quando chegou o tempo da colheita de batatas doces na chácara de São Pedro, este chamou o diabo e perguntou-lhe:


- Quer você ajudar-me a colher as batatas? Eu lhe darei metade da produção.

O diabo achou que era bom negócio e respondeu logo:

- Está certo. Vamos até lá.

Ao chegarem ao terreno onde estavam plantadas as batatas doces, São Pedro perguntou ao diabo:

- Agora, você escolha: quer ficar com a metade de cima ou com a metade de baixo da terra?

O diabo respondeu:

- Ora essa! Quero ficar com a metade de cima da terra!

São Pedro mostrou-se de acordo:

- Está bem; pode colher sua parte que, logo, virei colher a minha!

E lá foi. Depois que o diabo cortou todas as ramas de batata doce e as levou para sua casa, São Pedro voltou ao terreno e arrancou as batatas, levando-as consigo. Satisfeito, deu um grande almoço e até convidou o diabo para comer à sua mesa. O diabo, que não pode comer as ramas colhidas, ficou com muita inveja do santo, prometendo a si mesmo que se vingaria.

Passados alguns dias, São Pedro encontrou-se novamente com o diabo e perguntou-lhe se queria ajudá-lo a colher repolhos de sua horta. O diabo aceitou imediatamente, mas foi logo dizendo que dessa vez seria ele a ficar com a parte de baixo da terra. O santo concordou, ajuntando que, diante disso, iria colher sua parte e deixaria a do diabo no terreno.

São Pedro foi e colheu todas as bonitas cabeças de repolho, deixando para o diabo somente as raízes que sobraram.

O diabo, logrado outra vez, sentiu redobrada vontade de vingar-se do santo e aceitava todos os convites que este lhe fazia para colher os produtos de sua chácara, mas nunca acertava na escolha: quando a planta dava em cima da terra, ele preferia a parte de baixo; quando dava em baixo, ele preferia a parte de cima. Foi assim que fizeram as colheitas de aipim, de alface, de amendoim, de tomates e de uma porção de coisas.

Até hoje o diabo está pelejando para ver se engana São Pedro, mas não consegue.

Dizem que com o diabo ninguém pode, mas dessa vez ele foi logrado por São Pedro.

(Informante: Angélica Loes, professora rural municipal, de Santa Teresa, Espírito Santo)

PEDRO, ANTÔNIO E JOÃO

 



autor: Benedito Lacerda e Oswaldo Santiago

Com a filha de João
Antônio ia se casar,
mas Pedro fugiu com a noiva
na hora de ir pro altar.

A fogueira está queimando,
o balão está subindo,
Antônio estava chorando
e Pedro estava fugindo.

E no fim dessa história,
ao apagar-se a fogueira,
João consolava Antônio,
que caiu na bebedeira.

sexta-feira, 19 de março de 2021

Folhinha de outono

 



"Era uma vez uma folhinha que nasceu num dia ensolarado de Primavera. Era a folhinha mais verdinha e bonita de um velho caquizeiro, e que vivia presa num ramo da árvore com as suas irmãzinhas. Todos os dias elas brincavam, dançando ao sabor da brisa do vento e gargalhavam pela vida feliz que tinham.

O tempo foi passando, o Verão entrou e o seu sol forte aquecia a folhinha que, toda vaidosa, por ser a mais bonita, se espreguiçava ao sentir o seu calor.
Certo dia as suas irmãs repararam que linda folhinha já não era a mais verdinha. Agora estava ela ficando cheia de manchas amarelas e castanhas. Sim, o Outono havia chegado. O sol e a brisa do Verão tinham partido e o vento frio começava a soprar. Pouco a pouco todas as folhinhas do caquizeiro cairiam.
A partir daquele dia a folhinha ficou triste e já não tinha vontade de brincar, pois sabia que um dia seria arrancada da árvore, atirada para o chão e, provavelmente, apanhada pelo varredor das ruas e colocada dentro de um caixote do lixo.
Conforme os dias passavam a folhinha ia perdendo as suas forças, vendo as suas irmãs sendo arrancadas da velha árvore pelo vento do Outono.
A folhinha quase que não conseguia lutar contra a estação, até que um dia, o vento forte soprou, soprou, soprou… e arrancou a folhinha do ramo da árvore.
A folhinha ficou caída no chão desesperada a chorar, porque pensou que a vida dela tinha terminado ali.
Só que, nesse exato momento, passou uma menina chamada Aninha que procurava por uma folhinha para dar de presente à sua vovozinha. De repente a menina olhou para o chão e viu uma linda folha castanha e amarela, era a folhinha de Outono mais bonita que alguém já tinha visto.
A menina pegou na folha, limpou-a e levou-a para casa. Quando chegou, entregou à sua avozinha, que ficou radiante com o presente da neta.
E a linda folhinha de Outono voltou a ser feliz, para sempre aconchegada dentro do livro preferido de receitas da vovó
.” 

                                                                                                        (autor não divulgado)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Pedro Malasartes

 


Meu senhor e minha senhora, não há neste mundão de meu Deus, ser vivente de qualidade semelhante a Pedro Malasartes. Em todo canto do mundo, no sertão ou na cidade, no interior ou nos estrangeiros, não há quem nunca tenha ouvido falar ou melhor ainda, quem não tenha participado de uma aventura com este herói, meio bufão, meio herói, justiceiro das malvadezas feitas aos pobres e desvalidos.

Um tipo de arlequim, matuto, sempre com suas manhas e artimanhas, enganos, astúcias e malandragens enfrentando os poderosos, reis, coronéis ou mesmo os mais comuns, patrões ignorantes ou senhores mesquinhos.

Pedro Malasartes, conhecido em vários países, com nomes diferentes, mas sempre com a mesma esperteza e ladino como ele só, já passou de norte a sul deste Brasil, mostrando que o pobre pode o ser pela falta de moeda corrente, mas nunca pela falta de imaginação e esperteza.

Diferente do ditado popular: “Para Pedro, Pedro para!”, Pedro Malasartes não deve parar nunca com a sua sina. Fazendo o errado para que as coisas fiquem certas, quer seja vendendo rabinhos de porco no lugar dos próprios, quer seja oferecendo urubus encantados e falantes, ensinando a plantar árvores de dinheiro ou receitas de sopa de pedra.

Viva Pedro Malasartes!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

O peixe

 



 

 Um peixe

 em

 liberdade

 no frio

 do fundo

 rio

 em verdade

 mais voa

 que nada.

 

 

                               (Elias José)

                              (Caixa mágica de surpresa, S. Paulo, Edições Paulinas, 1985).

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Mas não é

 



A farinha tá no fogo mas não é para tostar,

O botão parou na porta mas não é para entrar.

 

O martelo dá cabeçadas mas não é por querer,

O monjolo sobe e desce mas não é para te ver.

 

O piolho põe o pé na cabeça mas não é por prevenção,

O vaga-lume escolhe o escuro mas não é por precisão.

 

Meu burro morreu mas não foi de pensar,

A preguiça cansou mas não foi de trabalhar.

 

O olho do poço está cheio d'água mas não é de mágoa,

A losna é amarga como fel mas não é porque ela quer.

 

Livro: Batata Cozida, Mingau De Cará - Eloí Elisabete Bocheco



sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Recados


Mandei recado pra moça dos três anéis:

venha brincar comigo uma ciranda, se puder.

 

Nenhuma resposta

Nenhuma resposta.

 

Mandei recado pró adivinho de Abunã:

por favor, venha me ver amanhã.

 

Nenhuma resposta

Nenhuma resposta.

 

Mandei um recado pra Baba Yaga:

preciso de sua ajuda, senhora maga!

 

Nenhuma resposta

Nenhuma resposta.

 

Mandei recado pró sábio de Arimatéia:

sonhei sete noites com sete tigres

Mais sete com sete touros

outras sete com sete besouros.

O que será?

 

Nenhuma resposta

Nenhuma resposta.

 

Ume bene bu

Mandei os recados pelo rabo do tatu



(Batata Cozida, Mingal De Cará  - Tradição Oral  - Eloí Elisabete Bocheco)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Preguiça


 

Preguiça não lava o umbigo

E, se lava, não enxuga.

Preguiça não cozinha feijão

E, se cozinha, pede a alguém pra comer por ela.

 

Preguiça não faz caminhadas

E, se faz, vai carregada.

Preguiça não compra livros

E, se compra, pede que o livro já venha lido.

 

Preguiça sonha que o mundo acabe em almofadas macias para ela se recostar e em baldes de sorvete de creme para ela se arregalar.


(Batata Cozida, Mingal De Cará  - Tradição Oral  - Eloí Elisabete Bocheco)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Dizeres Rimados


 


De cavalo dado não se olham os dentes

Cesteiro que faz um cesto faz um cento

De cobra não nasce passarinho

Quanto mais velho melhor o vinho.

 

Com a boca cheia d'água ninguém assopra

O ponto do croché se escolhe é na amostra

Coroa não cura dor de cabeça

Em receita que deu certo, não mexa!

 

Água fria não escalda pirão

Vaso novo não se guarda no porão

A colher é que sabe a quentura da panela

Acerto de contas é no apagar da vela.

 

Raio não cai em pau deitado

Só passa uma vez o cavalo encilhado

O amor louco dura pouco

Terá jeito o pau que nasce torto?


A aranha vive do que tece

No olho do dono é que o carneiro cresce

Cada um sabe onde o sapato aperta

Até o santo desconfia quando é demais a oferta.

 

Hóspede de três dias dá azia

Pombo escaldado tem medo de água fria

Canudo que teve pimenta guarda o ardume

Rede no gancho não pega cardume.

 

Em anos de boas espigas, guarda

algumas para o tempo de urtigas

Amor sem beijo só no inferno vejo

Pão quente não se dá nem ao são nem ao doente.

 

Flauta doce não é trompete

Em fandango de galinha barata não se mete

Cavalo esperto não espanta a boiada

Fogo de palha não faz goiabada.


(Batata Cozida, Mingal De Cará  - Tradição Oral  - Eloí Elisabete Bocheco)