quarta-feira, 21 de maio de 2008

Ananse e o baú de histórias


Existe uma lenda africana que nos conta que houve um tempo em que na Terra não havia histórias para se contar, pois todas pertenciam a Nayane, o Deus dos céus.

Kwaku Ananse, o homem Aranha, queria comprar as histórias de Nyame, o Deus do céu, para contar ao povo de sua aldeia, então por isso um dia, ele teceu uma imensa teia de prata que ia do céu até o chão e por ela subiu. Quando Nyame ouviu Ananse dizer que queria comprar as sua histórias, ele riu muito e falou:

_ O preço de minhas histórias, Ananse, é que você me traga Osebo, o leopardo de dentes terríveis, Mmboro os marimbondos que picam como fogo e Moatia a fada que nenhum homem viu.

Ele pensava que com isso, faria Ananse desistir da idéia, mas ele apenas respondeu:

_Pagarei seu preço com prazer,ainda lhe trago Ianysiá, minha velha mãe, sexta filha de minha avó.

Novamente o Deus do céu riu muito e falou:

_Ora Ananse, como pode um velho fraco como você, tão pequeno, tão pequeno, tão pequeno, pagar o meu preço?

Mas Ananse nada respondeu, apenas desceu por suas teias de prata que ia do céu até o chão para pegar as coisas que Deus exigia. E correu por toda a selva até que encontrou Osebo, leopardo de dentes terríveis.

Aha, Ananse!. Você chegou na hora certa para ser meu almoço.

Oque tiver de ser será, disse Ananse. Mas primeiro vamos brincar do jogo de amarrar?

O leopardo que adorava jogos, logo se interessou.

Como se joga esta jogo?

Com cipós, eu amarro você pelo pé e pelo pé com o cipó, depois eu desamarro, ai, é a sua vez de me amarrar. Ganha quem amarrar e desamarrar mais depressa.

Muito bem - rosnou o leopardo que planejava devorar o Homem Aranha assim que o amarrasse.

Ananse, então, amarrou Osebo pelo pé, pelo pé, pelo pé e pelo pé, e quando ele estava bem preso, pendurou - o amarrado a uma árvore dizendo:

_Agora Osebo, você está pronto para encontrar Nyame o Deus do céu.

Ai, Ananse cortou uma folha de bananeira, encheu uma cabaça com água e atravessou o mato alto até a casa de Mmboro. Lá chegando, colocou a folha de bananeira sobre sua cabeça, derramou um pouco de água sobre si, e o resto sobre a casa de Mmboro dizendo:

_ Está chovendo, chovendo, chovendo, vocês não gostariam de entra na minha cabaça para que a chuva não estrague suas asas?

Muito obrigado! Muito obrigado! - zumbiram os marimbondos entrando para dentro da cabaça que Ananse tampou rapidamente.

O homem Aranha, então, pendurou a cabaça na árvore junto a Osebo dizendo:

_Agora Mmboro, você está pronto para encontrar Nyame o Deus do Céu.

Depois, ele esculpiu uma boneca de madeira, cobriu - a de cola da cabeça aos pés, e colocou - a aos pés de um flamboyant onde as fadas costumam dançar. À sua frente, colocou uma tigela de inhame assado, amarrou a ponta de um cipó em sua cabeça, e foi se esconder atrás de um arbusto próximo, segurando a outra ponta do cipó, e esperou.

Minutos depois, chegou Moatia, a fada que nenhum homem viu. Ela veio dançando, dançando, dançando, como só as fadas africanas sabem dançar, até aos pés do flamboyant. Lá, ela avistou a boneca e a tigela de inhame.

Bebê de borracha - disse a fada - estou com tanta fome, poderia dar - me um pouco do seu inhame?

Ananse puxou a sua ponta do cipó para que parecesse que a boneca dizia sim com a cabeça, a fada, então, comeu tudo, depois agradeceu:

_Muito obrigada bebê de borracha.

Mas a boneca nada respondeu, a fada, então, ameaçou:

Bebê de borracha, se você não me responde, eu vou te bater.

E como a boneca continuou parada, deu - lhe um tapa ficando com a mão presa na sua bochecha cheia de cola. Mais irritada ainda, a fada ameaçou de novo:

_Bebê de borracha, se não me responde, eu vou lhe dar outro tapa.

E como a boneca continuou parada, deu - lhe um tapa ficando agora, com as duas mãos presas. Mais irritada ainda, a fada tentou livrar - se com os pés, mas eles também ficaram presos. Ananse então, saiu de trás do arbusto, carregou a fada até a árvore onde estavam Osebo e Mmboro dizendo:

Agora Mmoatia, você está pronta para encontrar Nyame o Deus do céu.

Ai, ele foi a casa de Ianysiá sua velha mãe, sexta filha de sua avó e disse:

_Ianysiá venha comigo vou dá - la a Nyame em troca de suas histórias.

Depois ele teceu uma imensa teia de prata em volta do leopardo, dos mrimbondos e da fada, e uma outra que ia dochão até o céu e por ela subiu carregando seus tesouros até os pés do trono de Nyame.

Ave Nyame! - disse ele - aqui está o preço que você pede por suas histórias; Osebo, o leopardo de dentes terríveis, Mmboro, os marimbondos que picam como fogo e Moati, a fada que nenhum homem viu. Ainda lhe trouxe Ianysiá minha velha mãe, sexta filha de minha avó.

Myame ficou maravilhado, e chamou todos de sua corte dizendo:

O pequeno Ananse, trouxe o preço que peço pelas minhas histórias, de hoje em diante e para sempre, elas pertencem a Ananse e serão chamadas de histórias do Homem Aranha! Cantem em seu louvor!.

Ananse maravilhado, desceu por sua teia de prata levando consigo o baú das histórias até o povo de sua aldeia, e quando ele abriu o baú, as histórias se espalharam pelos quatro cantos do mundovindo chegar até aqui. Entrou por uma porta, saiu pela outra, quem quiser que conte outra.



(Mito africano de pelo menos 400 anos enviado por Roberto Isler)

terça-feira, 20 de maio de 2008

Príncipe Cinderelo


Babette Cole


O príncipe Cinderelo nem parecia príncipe.
Era baixinho, sardento, magricela e andava molambento.
O príncipe tinha três irmãos enormes, muito peludos, que viviam caçoando do jeito dele. Eles iam sempre à discoteca do Palácio com namoradas princesas, e faziam o pobre Cinderelo ficar em casa, limpando o que eles sujavam.
Quando terminava o trabalho, o Príncipe sentava perto do fogo e sonhava em ser enorme e peludo como os irmãos.
Um sábado à noite, quando ele estava lavando as meias, uma fada muito sujinha caiu pela chaminé.
“Todos os seus desejos serão realizados. Ziz Ziz Bum , Tique TAQUE Tarro, esta lata vazia vai virar um carro”, gritou a fada.
“Bife Bangüê Bongue, Pec Peteca, você vai à discoteca”.
“Não deu muito certo!”, disse a fada, vendo que a lata tinha se transformado em um patins.
“Dedo de rato e mosca de sopa, seus trapos vão virar uma linda roupa!”
(“ Droga, pensou a fada, “não era para ser uma roupa de BANHO!”)
“Agora o que deseja mais do que tudo: você SERÁ enorme e peludo!”
O príncipe Cinderelo se tornou enorme e peludo mesmo! “Ratos me mordam!’, disse a fada. “Deu errado de novo, vendo que ele se transformou em um enorme macaco peludo, mas tenho certeza de que tudo vai se acabar à meia noite!”
Mas, por causa do tipo de encantamento, o Príncipe Cinderelo não sabia que tinha virado um macaco enorme e peludo. Ele achava que estava muito bonito!
Assim, lá se foi o Príncipe Cinderelo para a discoteca., montado com um pé só sobre o patins.
Mas, quando chegou ao Embalo Real, percebeu que era grande demais para passar pela porta.
Resolveu tomar um ônibus para voltar para casa.
Uma bela princesa estava esperando no ponto. “Quando passa o próximo ônibus ?”, ele grunhiu.
Por sorte bateu meia-noite e o Príncipe Cinderelo voltou a se transformar nele mesmo.
A princesa achou que ele tinha afugentado o macaco enorme e peludo, para salvá-la!
“Espere!”, ela gritou, mas o Príncipe Cinderelo era muito tímido. Saiu correndo e até perdeu a calça! A princesa era justamente a bela e rica Princesa Belarrica. Ela mandou anunciar que estava à procura do dono daquela calça.
Todos os Príncipes da redondeza tentaram vestir a calça à força. Mas ela se retorcia e se recusava a entrar em cada um deles! É claro que os irmãos do Príncipe Cinderelo tentaram vestir a calça , os três ao mesmo tempo...
“ Deixe-o tentar “ , ordenou a Princesa apontando para o Cinderelo. “A calça não vai servir nesse garoto atrevido”, reclamaram os irmãos.
...Mas serviu! Na mesma hora a Princesa Belarrica o pediu em casamento.
Assim o Príncipe Cinderelo se casou com a Princesa Belarrica e viveu luxuosamente e feliz para sempre...
E a Princesa Belarrica teve uma conversinha com a fada sobre os três irmãos enormes e peludos... que ela transformou em fadas domésticas.
E eles esvoaçaram pelo palácio fazendo o serviço da casa...para sempre.
(História enviada por Neusa Lucia Braga Cia)

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Como Nasceram as Estrelas



Pois é, todo mundo pensa que sempre houve no mundo estrelas pisca-pisca. Mas é erro. Antes os índios olhavam de noite para o céu escuro - e bem escuro estava esse céu. Um negror. Vou contar a história singela do nascimento das estrelas.
Era uma vez, no mês de janeiro, muitos índios. E ativos: caçavam, pescavam, guerreavam. Mas nas tabas não faziam coisa alguma: deitavam-se nas redes e dormiam roncando. E a comida? Só as mulheres cuidavam do preparo dela para terem todos o que comer. Uma vez elas notaram que faltava milho no cesto para moer. Que fizeram as valentes mulheres? O seguinte: sem medo enfurnaram-se nas matas, sob um gostoso sol amarelo. As árvores rebrilhavam verdes e embaixo delas havia sombra e água fresca. Quando saíam de debaixo das copas encontravam o calor, bebiam no reino das águas dos riachos buliçosos. Mas sempre procurando milho porque a fome era daquelas que as faziam comer folhas de árvores. Mas só encontravam espigazinhas murchas e sem graça.
- Vamos voltar e trazer conosco uns curumins. (Assim chamavam os índios as crianças.) Curumim dá sorte.
E deu mesmo. Os garotos pareciam adivinhas as coisas: foram retinho em frente e numa clareira da floresta - eis um milharal viçoso crescendo alto. As índias maravilhadas disseram: toca a colher tanta espiga. Mas os garotinhos também colheram muitas e fugiram das mães voltando à taba e pedindo à avó que lhes fizesse um bolo de milho. A avó assim fez e os curumins se encheram de bolo que logo se acabou. Só então tiveram medo das mães que reclamariam por eles comerem tanto. Podiam esconder numa caverna a avó e o papagaio porque os dois contariam tudo. Mas - e se as mães dessem falta da avó e do papagaio tagarela? Aí então chamaram os colibris para que amarrassem um cipó no topo do céu. Quando as índias voltaram ficaram assustadas vendo os filhos subindo pelo ar. Resolveram, essas mães nervosas, subir atrás dos meninos e cortar o cipó embaixo deles. Aconteceu uma coisa que só acontece quando a gente acredita: as mães caíram no chão, transformando-se em onças. Quanto aos curumins, como já não podiam voltar para a terra, ficaram no céu até hoje, transformados em gordas estrelas brilhantes.
Mas, quanto a mim, tenho a lhes dizer que as estrelas são mais do que curumins. Estrelas são os olhos de Deus vigiando para que corra tudo bem. Para sempre. E, como se sabe, "sempre" não acaba nunca.

Clarice Lispector (Como nasceram as estrelas - Doze lendas brasileiras)
(História enviada por Amauri de Oliveira)

terça-feira, 13 de maio de 2008

Se as coisas fossem mães


Se a lua fosse mãe, seria a mãe das estrelas,
o céu seria sua casa, casa das estrelas belas.


Se a sereia fosse mãe, seria mãe dos peixinhos,
o mar seria um jardim e os barcos seus caminhos.


Se a casa fosse mãe, seria a mãe das janelas,
conversaria com a lua sobre as crianças estrelas,
falaria de receitas, pastéis de vento, quindins,
emprestaria a cozinha para a lua fazer pudins.


Se a terra fosse mãe, seria mãe das sementes,
pois mãe é tudo que abraça, acha graça e ama a gente.


Se a fada fosse mãe, seria a mãe da alegria,
toda mãe é um pouco fada. Nossa mãe fada seria.


Se a bruxa fosse mãe, seria uma mãe gozada,
seria mãe das vassouras, da família vassourada.


Se a chaleira fosse mãe, seria mãe da água fervida,
faria chá e remédio para as doenças da vida.


Se a mesa fosse mãe, as filhas, sendo cadeiras,
sentariam comportadas, teriam “boas maneiras”.


Cada mãe é diferente: mãe verdadeira ou postiça
mãe vovó e mãe titia, Maria Filó, Francisca,
Gertrudes,Malvina, Alice,
toda mãe é como eu disse.


Ri, esquece, lembra e chora, traz remédio e sobremesa
...Tem até pai que é tipo mãe ... Esse então é uma beleza!


Para a mãe de todo mundo e para todo mundo que é mãe.Um abração desssssssssssssssssssssssssssse tamanhão!

Texto: Sylvia Orthof

(História envida por Amauri de Oliveira)

segunda-feira, 5 de maio de 2008

A Fada das Chupetas


Era uma vez... Uma fada que se chamava Haide...
A Haide gostava muito de aventuras...
Ela queria ser uma fada diferente...
Então ela foi falar com a rainha das fadas e pediu que desse a ela um dom diferente das outras fadas.
E a rainha que era muito boa... boníssima...atendeu seu pedido...disse que ela seria a fada madrinha das chupetas.
Quem aqui já ouviu falar da fada madrinha das chupetas?
Pois a Haide também não... e ela perguntou...
_Mas soberana rainha, o que faz uma fada madrinha das chupetas?
E a rainha... que era muito boa...boníssima...com muita paciência respondeu:
_Sua missão será sair à noite, enquanto todas as crianças dormem pegar as suas chupetas e elevar lá para o céu. E com elas construir uma estrela. Mas não será uma estrela qualquer. Será uma estrela bem diferente... radiante...
E assim fazia Haide. Todas as noites enquanto as crianças a dormiam recolhia a chupeta deixava um doce no lugar, fazia uma troca e as levava para o céu.
Mas ultimamente a Haide andava muito triste, pois poucas crianças queriam doar as chupetas e ela não estava conseguindo terminar a estrela. Mesmo assim a Haide não desistiu. Ela era persistente e acreditava que iria conseguir.
Certa noite ela estava passando por uma rua pensando em qual casa iria entrar. De repente ela viu algo que chamou sua atenção. Não era possível! Será que seus olhos estavam lhe pregando uma peça? Então Haide se aproximou bem devagar, com medo que fosse uma miragem... Mas era verdade. Em cima de um muro comprido havia muitas... chupetas!
A Haide ficou muito feliz mais que depressa pegou todas as chupetas e deixou um doce no lugar de cada uma e seguiu cantarolando para o céu.
Finalmente a Haide conseguiu cumprir a sua missão.
E assim todas as noites quando olharmos para o céu, se olharmos com os olhos do coração, com certeza conseguiremos encontra-la e teremos a oportunidade de contemplar uma linda estrela, a mais brilhante, a maior de todas. Uma estrela em forma de chupeta.
(História enviada por Áurea Falgeti)