Havia
em certo lugar de Minas Gerais um vigário a quem os paroquianos chamavam de
Padre Lourenço. Era muito bondoso, muito acessível às suas ovelhas mas, por
isso mesmo, elas lhe tomavam todo o tempo com suas confissões.
A que
xingava o marido, a que espiava a vizinha pelo buraco da fechadura, a que
caluniava o caixeira da venda, afirmando, por toda parte, que ele lhe servia
uma coisa, mas assentava outra, bem mais cara, na caderneta, não o deixavam em
paz.
Sentido-se
irremediavelmente perdidas na prestação de contas do Juízo Final, não apenas
essas, mas as dezenas de beatas do lugar, nem bem cometiam o seu pecado, já
corriam à Igreja para que o santo religioso lhes aliviasse a cacunda,
absolvendo-as de tão perigosas culpas. E o vigário já não tinha tempo para
coçar-se.
Acordava-se
ele ao cantar dos galos e, em jejum, como é do preceito, corria para a nave
umbrosa da Matriz, apenas alumiada por uma ou outra lamparina que ardia nos
nichos e ia encafuar-se no confessionário, à espera de que uma a uma, de cabeça
envolta no fichu, as beatas viessem referir-lhe, em voz untuosa, os seus
pecados das últimas horas, suplicando-lhe absolvição. Ao terminar o serviço, as
contritas mulheres estavam mais leves, mas em compensação o vigário já não
podia mais de fraqueza, pois jejum tão prolongado não nenhum biscoito.
Então,
para dividir o trabalho e torná-lo menos penoso, o acatado clérigo resolveu
organizar um roteiro para as desobrigas, o qual foi lido do púlpito, um domingo
à hora da missa, e dizia assim:
"Minhas
devotas. Estou ficando velho e cansado e por isso, de agora em diante, resolvi
seguir para as confissões este roteiro: aos domingos confessarei as
preguiçosas; às segundas as maldizentes; às terças as ladras; às quartas as
hipócritas; às quintas as bêbadas; às sextas as feiticeiras e aos sábados as
comilonas e as erradas".
Desse
dia por diante nenhuma daquelas santas beatas quis mais confessar-se na sua
freguesia e o Padre Lourenço viveu ainda muitos anos, na santa paz do senhor.