Contam
os antigos que, num tempo distante e em terras mais distantes ainda, existia no
"Vale do Fogo Ardente", um jovem foguinho conhecido por FOGARÉU. E,
ao sul desse Vale, existia ali a "Terra da Garoa" onde vivia uma
Chuvinha linda, linda! Todas as tardes, Fogaréu observava do alto de uma
encosta rochosa a linda Chuvinha brincando lá longe, lançando suas águas de
encontro à mata, dando assim, com os raios do sol, a ilusão de uma linda
cachoeira de diamantes. Fogaréu se encantava com aquela cena e a cada dia, seu
coração ardia não de fogo, mas de paixão. Do outro lado, Chuvinha também se
derretia de paixão, olhando Fogaréu com suas chamas vermelhas balançando ao
vento.
Certa
vez, Fogaréu resolveu declarar sua paixão por Chuvinha à sua amiga Águia que
também, todas as tardes, sobrevoava lá do alto, o Vale do Fogo Ardente. Muito
comovida, a amiga Águia pensou em promover um encontro entre Fogaréu e
Chuvinha. Em meio a tanta alegria, Fogaréu de repente se abateu, porque não
sabia como isso poderia acontecer, já que no Vale do Fogo Ardente nunca podia
chover e na Terra da Garoa Fogaréu não podia entrar. A amiga Águia pensou,
voou, pensou e num bater de asas, EUREKA!!! Muito animada, lá de cima a amiga
Águia disse a Fogaréu:
-
Fogaréu?! Vamos falar com a Mãe Natureza e promover esse encontro ali na
Floresta que divide as duas terras. Vamos realizar esse encontro na terra onde
tudo pode acontecer, na "Terra do Faz de Conta". Sem pestanejar,
Fogaréu adorou a idéia e a amiga Águia mais que depressa voou até a Terra do
Faz de Conta para conversar com a Mãe Natureza sobre o encontro.
Ao
receber o pedido de Fogaréu, trazido por D. Águia, Mãe Natureza ficou muito
preocupada porque temia pela segurança dos animais da Terra do Faz de Conta,
temendo ainda um incêndio provocado por Fogaréu. O Papagaio, o bichinho mais
curioso e fofoqueiro da floresta, ouvindo tudo atrás de uma bananeira, não
perdeu tempo e espalhou a notícia:
-
Purutaco, tataco, FOGARÉU e CHUVINHA vão se encontrar aqui na Terra do Faz de
Conta. Os animais alvoroçados foram diretamente ao encontro da Mãe Natureza
para saber sobre a notícia que se espalhara. A grande dúvida, ou melhor, o
grande medo era onde, dentro da Terra do Faz de Conta, esse encontro poderia
acontecer. Fala daqui, reclama dali, quando o Dom Calango, deu um grito
dizendo:
-
Silênnnnciooooooo!!!! Eu sei onde Fogaréu e Chuvinha podem se encontrar. Só tem
um lugar dentro da Terra do Faz de Conta que não oferecerá muito perigo e esse
lugar está bem no centro da Floresta. É lá nas rochas dos calangos, cobras e
lagartos.
A
Mãe Natureza, ainda muito receosa mas, com seu grande coração de mãe acatou a
idéia e até marcou a data do encontro: 12 de junho, em comemoração ao dia de
todos os animais apaixonados. Faltando apenas três dias para o encontro, todos
os animais já estavam sabendo pois, o Elefante com sua tromba, anunciava por
toda a mata como se fosse um carro de som. O macaco pulando de galho em galho,
aproveitava a oportunidade para vender ingressos dos melhores lugares em cima
das copas das árvores. A hiena, essa só sabia rir e dizer a todos que esse
encontro não ia acabar bem mas que mesmo assim, ia estar lá para presenciar
esse desfecho. O bicho Preguiça, com medo de perder esse espetáculo amoroso,
comprou um ingresso do macaco e tratou logo de já ir andando, com toda sua
paciência, para chegar a tempo do grande espetáculo. Um bando de andorinhas, a
convite de seus primos pardais, veio de muito longe, viajando milhas só para
assistirem a cerimônia amorosa. O Rei Leão rapidinho procurou D. Aranha,
costureira de sucesso por toda a região, pedindo a mesma que fizesse uma linda
túnica real com suas teias finas e reluzentes como ouro. Enfim, todos os
animais se manifestavam ansiosos e felizes com o encontro de Fogaréu e
Chuvinha.
E
por falar nos dois, Fogaréu e Chuvinha, muito emocionados também se preparavam
para o encontro. Ele, o Fogaréu tratou logo de se esticar sob o sol e dar uma
queimadinha, para manter o bronzeado. Ela, a Chuvinha, preferiu tomar um banho
de Chuva de Rosas com ervas silvestres. Ah! A amiga Águia, essa fora convidada
pelo casal de namorados para fazer o papel de mestre de cerimônia da nova
união. Tudo pronto, público presente no grande palco do evento, D. Águia abre o
espetáculo convidando a Orquestra Filarmônica da Grande Floresta, composta
pelos tenores Sabiá e D. Cigarra e pelos sopranos Bem-te-vi e D. Sariema, além
dos demais músicos, como D. Coruja e Sr. Raposão, tudo isto sob a regência do
Maestro Galo de Viena para, assim tocarem "Danúbio Azul" durante a
entrada dos namorados. Logo após a entrada de Fogaréu e Chuvinha, chega a hora
de ambos se apresentarem um para o outro e para toda a bicharada. Fogaréu, em
meio a grande emoção assim exclamou:
-
Querida Chuvinha, queria poder te esquentar em meus braços mas, como o Destino
assim não me permite, saiba que apenas uma de suas gotas que cair sobre meu
coração, servirá como bálsamo para transformar essa paixão ardente em Amor
escaldante.
Todos
os animais se levantaram para aplaudir Fogaréu. A mamãe Ursa, mal se continha
de tanto chorar. O silêncio mais uma vez tomou conta da Terra do Faz de Conta.
Era a vez de todos ouvirem Chuvinha e, foi dessa forma que ela falou:
-
Amado Fogaréu, há tempos em que derramo gotas lacrimejantes de paixão por você.
Não me sentiria derrotada se para ficar contigo tivesse que secar-me toda,
acabando com toda minha água, pois, o meu Amor por você mergulha cada dia mais
fundo dentro das águas de minha alma. Te amo!!! Mais choro, mais emoção.
Os
animais pulavam sobre os galhos das árvores, fazendo com que estas derramassem
suas folhas sobre o os namorados. De repente, o bicho Preguiça, que ainda subia
na árvore, chega até seu galho que, naquele momento, estava lotado de animais.
Arreda daqui, espreme de lá. Epa, que barulho é esse, gritou o chimpanzé!
Cleck, crack, esse galho vai quebrar retrucou o Esquilo. Os bichos apavorados
com a situação se desesperaram e sem que esses pudessem descer, a girafa
gritou: Madeeeiiiiraaaaaa!!!! O galho imenso, daquela árvore maior ainda, veio
caindo, caindo e para infelicidade geral, esse caiu bem em cima de Fogaréu que,
sem querer, espalhou suas chamas pelo galho, que também as fez espalhar para
outros galhos de outras árvores, começando assim um incêndio na Terra do Faz de
Conta. Os animais apavorados, corriam descontroladamente. O Elefante que antes
anunciava o Grande Encontro, só gritava: Salve-se quem puder!!! E Fogaréu,
coitado, a cada movimento de desespero seu espalhava mais fogo ainda pela
floresta. A mãe Natureza, chorando muito, chamou D. Águia para que essa
dissesse a Chuvinha para jogar água, bastante água e bem forte sobre tudo que
estava lá em baixo, pois só assim, o incêndio não devastaria toda a mata e nem
mataria nenhum animal. Ao receber a ordem, Chuvinha disse que não poderia fazer
isto, porque acabaria com Fogaréu, o grande amor de sua vida. Mas e os animais?
E a floresta? Perguntou D. Águia. Lá em baixo, bem no centro do grande tumulto,
uma voz ecoa alto, chegando através do vento nos ouvidos de Chuvinha. Era
Fogaréu que gritava assim:
-
Chuvinha meu amor, use suas águas e acabe com o mal que provoquei. Mesmo que eu
morra, você viverá comigo na eternidade e espero que eu também viva com você em
suas lembranças.
Chuvinha,
triste, bastante triste, começou a chorar e foi esse seu choro que soprado pelo
vento, começou a molhar a Terra do Faz de Conta. A cada gota que caía, Chuvinha
não se continha e chorava mais forte, fazendo com que mais forte suas lágrimas
caíssem sobre a terra. Chorou, chorou e quando esta se deu conta que o incêndio
estava acabando e o que é pior, que FOGARÉU estava desaparecendo, caiu
profundamente em um pranto incontrolável, chorando até a última de sua gota.
Passado o tormento, os animais que haviam se escondido, voltaram para o centro
da Floresta, o palco do espetáculo. Só que dessa vez, as estrelas do show não
se encontravam mais lá. Fogaréu acabara de ser morto por Chuvinha e ela, também
morrera porque não resistiu a dor de ter assim matado seu grande amor e chorou
até secar todas suas águas. Mas, de repente, o rei Leão pede silêncio a todos e
lá no céu, com a fumaça que subira dos restos queimados por Fogaréu e apagados
por chuvinha, todos os bichos avistaram uma mensagem que se formou e dizia
assim:
-
MESMO QUE NÓS NÃO ESTEJAMOS MAIS JUNTOS AQUI, MESMO QUE NOSSAS VIDAS JÁ NÃO
SEJAM MAIS VIVIDAS POR NÓS, ESTAMOS JUNTOS NA ETERNIDADE DE NOSSAS ALMAS,
PORQUE PODEM CALAR NOSSAS VOZES, MAS, NUNCA PODERÃO SILENCIAR NOSSO GRITO DE
AMOR.
Contribuição
de Rinaldo Cláudio Guimarães Integrante do Grupo "Encantadores de
Histórias".