segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

A Festa de Pedro Malasartes

Era aniversário de Pedro Malasartes, que adorava uma festa. Malasartes estava sem dinheiro, mas o primo dele tinha muito dinheiro e certamente o receberia bem apesar de ser um pouco pão duro. Foi até a fazenda do primo, que o recebeu entusiasmado por economizar assim a viagem. Pedro entrou rápido e o primo foi logo oferecendo:

- Ora, Pedro, tenho aqui uma broa que sinhá assou, fresquinha. É tanta que vai durar a semana inteira.
- Broa de milho, primo?

- É sim, quer um pedaço?
Malasartes agradeceu humilde:

- Não, primo, basta um cafezinho.

- Mas é seu aniversário homem, eu reconheço que sou um pouco parcimonioso, mas um pouco de cortesia não faz mal! Se quiser é só pediu.

Malasartes agradeceu, mas continuou só com o café. Continuaram conversando e o primo ofereceu:

- Olha Pedro, ontem mandei matar aquele leitão capado que eu vinha engordando. Temos uma porção de torresmo e toucinho frescos que mandei preparar. Quer um pouco, pois tenho bastante?

- Tem muito mesmo?

- Sim bastante, quer?

- Nada primo, pode deixar, basta um cafezinho.

- Tudo bem, mas quando quiser é só pedir. O primo pareceu satisfeito e foram proseando mais e mais até que o primo ofereceu de novo:

- Pedro, faz tempo que tenho guardado umas garrafas de cachaça para beber.

- E é dá boa?
- Da melhor. Vamos fazer um brinde?

- Não primo, para mim basta um cafezinho.

- Não se faça de rogado que você ta quase em casa. Quando ficar com vontade é só pedir.

E assim, o primo de Pedro Malasartes, pelas boas normas da cortesia que regiam aquele lugar e motivado pelo fato de Malasartes não parecer querer gastar nada foi oferecendo um pouco de cada coisa que tinha na despensa. E Malasartes ouvia e recusava se contentando com um cafezinho. Nessa toada foram até que ouviram uma batida tímida na porta. O primo de Malasartes se levantou e abriu a porta vendo do lado de fora uma verdadeira multidão de conhecidos. O primeiro foi logo falando:
- Olha, desculpa a intrusão, mas ficamos sabendo que Pedro Malasartes estava por aqui e passamos só para dar os parabéns.

O primo desconfiado, mas sem ter como recusar uma simples cortesia convidou todos para entrar e na hora que já preparava para falar:

- Olha, eu sinto muito meus amigos, mas não tenho quase nada na despensa...

Malasartes foi logo falando, deixando de lado o cafezinho:

- Oh, primo, sabe aquele torresmo, toucinho, broa, cachaça, suco de laranja, rosca, lingüiça, e tudo mais que você ofereceu? Agora eu até quero um pouquinho, que já me cansei desse café que eu tomava até o pessoal chegar...

E o primo engasgou e uma vez que o oferecido estava em vigor, acabou bancando, toda a festa de Pedro Malasartes.
(História postada por Amauri de Oliveira)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O quarto rei mago




Conta uma velha lenda que quando os três reis Magos – Gaspar, Melquior e Baltazar – se dirigiram à Belém e chegaram ao estábulo onde nascera o menino-Deus, depositaram seus presentes: ouro, incenso e mirra, diante do menino e de sua mãe, mas a criança não sorriu – ele não percebeu o esplendor do ouro e nem sentiu o cheiro da mirra e quando Maria ascendeu o incenso, a fumaça fez o neném tossir.

Os três Magos, depois de reverenciarem o pequenino, se despediram meio desapontados.

Assim que seus camelos desapareceram atrás das montanhas, chegou à Belém, um quarto rei Mago.

Sua pátria era um país banhado pelo Golfo Pérsico. Quando ele viu a estrela que anunciava o nascimento do Deus que viria redimir a humanidade, sentiu que tinha de procurar o lugar sobre o qual ela brilhava. Aprontou-se para ir reverenciar o menino-Deus e levou para presenteá-lo o que tinha de mais precioso: três grandes pérolas brancas, maiores que um ovo de pomba. Viajou muitos dias e ficou sabendo dos outros três reis e de seus presentes. Mas ...suas mãos estavam vazias quando descobriu o lugar anunciado pela estrela – ele não tinha mais as pérolas!...

Ao chegar ao estábulo, abriu as portas com cuidado e viu o menino Jesus sobre os joelhos de sua mãe. Ela o embalava suavemente cantando uma cantiga de ninar.

Lentamente o Rei entrou e se atirou aos pés do Menino e de sua mãe e, hesitante começou a falar:

“Menino-Santo, eu vim lhe render homenagens e estou sabendo que aqui já estiveram três reis trazendo-Lhe ricas oferendas. Eu também tinha um presente para lhe dar: três pérolas preciosas, mas... não as tenho mais! Acontece que eu tive de pernoitar em uma hospedaria de beira de estrada e ali encontrei um velho tremendo de febre, estendido sobre um banco. Ninguém sabia quem era e ele não trazia dinheiro algum, com toda certeza morreria abandonado. Eu tive pena dele, peguei uma das pérolas e dei ao hospedeiro para providenciar um médico e, se o velho morresse, que tivesse garantido um túmulo em terra abençoada.

Na manhã seguinte, eu parti. A estrada seguia por um vale deserto, cheio de enormes rochedos. Subitamente eu ouvi gritos vindos de um bosque. Procurei ver o que estava acontecendo e deparei-me com soldados subjugando uma jovem mulher e se preparando para serviciá-la. Eram muitos e eu não teria condições de lutar contra eles. Oh! Divina-criança, perdoa-me mais uma vez pois eu peguei outra pérola e paguei a liberdade daquela jovem. Ela me agradeceu e fugiu para as montanhas.

Eu agora só tinha uma pérola, mas ao menos uma eu queria lhe trazer!

Já estava bem próximo de Belém, mas ao passar por uma pequena vila, ouvi muito choro e gritos – eram mães de pequeninos que tinham sido mortos por soldados em obediência às ordens de Herodes”: “matem todos os meninos de até dois anos!! Eu vi um soldado pronto a cortar a cabeça de um menininho que chorava muito, sua mãe gritava dolorosamente – ah! Menino-Deus, perdoa-me, mas eu peguei a terceira pérola e a dei ao soldado para que ele devolvesse a criança à mãe.

Ah! meu Santinho! É por isso que venho de mãos vazias. Perdão! Perdão!

O silêncio reinava no estábulo quando o rei concluiu sua confissão. Durante alguns instantes ele permaneceu inclinado, com a testa no chão e finalmente quando levantou os olhos viu S.José se aproximando e Maria olhando o filho que parecia dormir.

Não! O menino Jesus não dormia. Lentamente ele se virou estendendo suas mãozinhas pra as mãos vazias do rei... e o menino Jesus sorria.



Fonte: Joannes Joersen - Os Mais belos Contos de Natal - Editora Vozes. Adaptado por Daura Guimarães.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Menina Bonita do Laço de Fita


Era uma vez uma menina linda, linda.

Os olhos pareciam duas azeitonas pretas brilhantes, os cabelos enroladinhos e bem negros.

A pele era escura e lustrosa, que nem o pelo da pantera negra na chuva.

Ainda por cima, a mãe gostava de fazer trancinhas no cabelo dela e enfeitar com laços de fita coloridas. Ela ficava parecendo uma princesa das terras da áfrica, ou uma fada do Reino do Luar.

E, havia um coelho bem branquinho, com olhos vermelhos e focinho nervoso sempre tremelicando. O coelho achava a menina a pessoa mais linda que ele tinha visto na vida.

E pensava:

- Ah, quando eu casar quero ter uma filha pretinha e linda que nem ela...

Por isso, um dia ele foi até a casa da menina e perguntou:

- Menina bonita do laço de fita, qual é o teu segredo para ser tão pretinha?

A menina não sabia, mas inventou:­

- Ah deve ser porque eu caí na tinta preta quando era pequenina...

O coelho saiu dali, procurou uma lata de tinta preta e tomou banho nela. Ficou bem negro, todo contente. Mas aí veio uma chuva e lavou todo aquele pretume, ele ficou branco outra vez.

Então ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez:

- Menina bonita do laço de fita, qual é o seu segredo para ser tão pretinha?

A menina não sabia, mas inventou:
- Ah, deve ser porque eu tomei muito café quando era pequenina.

O coelho saiu dali e tomou tanto café que perdeu o sono e passou a noite toda fazendo xixi.

Mas não ficou nada preto.

- Menina bonita do laço de fita, qual o teu segredo para ser tão pretinha?

A menina não sabia, mas inventou:

­- Ah, deve ser porque eu comi muita jabuticaba quando era pequenina.

O coelho saiu dali e se empanturrou de jabuticaba até ficar pesadão, sem conseguir sair do lugar. O máximo que conseguiu foi fazer muito cocozinho preto e redondo feito jabuticaba. Mas não ficou nada preto.

Então ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez:
- Menina bonita do laço de fita, qual é teu segredo pra ser tão pretinha?

A menina não sabia e... Já ia inventando outra coisa, uma história de feijoada, quando a mãe dela que era uma mulata linda e risonha, resolveu se meter e disse:

- Artes de uma avó preta que ela tinha...

Aí o coelho, que era bobinho, mas nem tanto, viu que a mãe da menina devia estar mesmo dizendo a verdade, porque a gente se parece sempre é com os pais, os tios, os avós e até com os parentes tortos.

E se ele queria ter uma filha pretinha e linda que nem a menina, tinha era que procurar uma coelha preta para casar.

Não precisou procurar muito. Logo encontrou uma coelhinha escura como a noite, que achava aquele coelho branco uma graça.

Foram namorando, casando e tiveram uma ninhada de filhotes, que coelho quando desanda a ter filhote não para mais! Tinha coelhos de todas as cores: branco, branco malhado de preto, preto malhado de branco e até uma coelha bem pretinha. Já se sabe, afilhada da tal menina bonita que morava na casa ao lado.

E quando a coelhinha saía de laço colorido no pescoço sempre encontrava alguém que perguntava:

- Coelha bonita do laço de fita, qual é o teu segredo para ser tão pretinha?

E ela respondia:

- Conselhos da mãe da minha madrinha...

[de Ana Maria Machado, livro.ilustração: Claudius]

(Enviada a pedidos, por Amauri de Oliveira)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A Vaquinha


Um Mestre da sabedoria passeava por uma floresta com seu fiel discípulo quando avistou ao longe um sítio de aparência pobre e resolveu fazer uma breve visita...

Durante o percurso ele falou ao aprendiz sobre a importância das visitas e as oportunidades de aprendizado que temos, também com as pessoas que mal conhecemos.

Chegando ao sitio constatou a pobreza do lugar, sem calçamento, casa de madeira, os moradores, um casal e três filhos, vestidos com roupas rasgadas e sujas... então se aproximou do senhor aparentemente o pai daquela família e perguntou:

- Neste lugar não há sinais de pontos de comércio e de trabalho; como o senhor e a sua família sobrevivem aqui?

E o senhor calmamente respondeu:

- Meu amigo, nos temos uma vaquinha que nos da vários litros de leite todos os dias. Uma parte desse produto nos vendemos ou trocamos na cidade vizinha por outros gêneros de alimentos e a outra parte nos produzimos queijo, coalhada, etc...; para o nosso consumo e assim vamos sobrevivendo.

O sábio agradeceu a informação, contemplou o lugar por uns momentos, depois se despediu e foi embora. No meio do caminho, voltou ao seu fiel discípulo e ordenou:

- Aprendiz, pegue a vaquinha, leve-a ao precipício ali na frente e empurre-a, jogue-a lá em baixo.

O jovem arregalou os olhos espantado e questionou o mestre sobre o fato da vaquinha ser o único meio de sobrevivência daquela família, mas, como percebeu o silêncio absoluto do seu mestre, foi cumprir a ordem.

Assim empurrou a vaquinha morro abaixo e a viu morrer.

Aquela cena ficou marcada na memória daquele jovem durante alguns anos e um belo dia ele resolveu largar tudo o que havia aprendido e voltar naquele mesmo lugar e contar tudo aquela família, pedir perdão e ajuda-los.

Assim fez, e quando se aproximava do local avistou um sitio muito bonito, com arvores floridas, todo murado, com carro na garagem e algumas crianças brincando no jardim. Ficou triste e desesperado imaginando que aquela humilde família tivera que vender o sitio para sobreviver, "apertou" o passo e chegando lá, logo foi recebido por um caseiro muito simpático e perguntou sobre a família que ali morava há uns quatro anos e o caseiro respondeu:

- Continuam morando aqui.

Espantado ele entrou correndo na casa; e viu que era mesmo a família que visitara antes com o mestre. Elogiou o local e perguntou ao senhor (o dono da vaquinha):

- Como o senhor melhorou este sítio e esta muito bem de vida???
E o senhor entusiasmado, respondeu:

- Nos tínhamos uma vaquinha que caiu no precipício e morreu, dai em diante tivemos que fazer outras coisas e desenvolver habilidades que nem sabíamos que tínhamos, assim alcançamos o sucesso que seus olhos vislumbram agora...

(História enviada por Amauri de Oliveira)

A MORTE QUE FEZ UM HOMEM RICO


Um homem tinha muitos filhos, e já todos os homens da freguesia eram seus compadres.
A mulher alcançou outra vez e pronta estava para parir. O homem, que não queria pedir a mais ninguém, abalou de casa.
Encontrou no caminho um homem muito desfigurado, que lhe perguntou aonde ele ia.
Ele contou-lhe, e o homem disse-lhe que voltasse para trás, que ele era o seu padrinho.
Assim foi.
Quando acabou o batizada, o homem disse:
— Compadre, repare bem para mim, para me conhecer onde quer que me encontre. Eu sou a Morte. Tu muda de casa e faz-te médico, que hás-de ganhar muito dinheiro. Em tu me vendo aos pés da cama de qualquer doente, é porque ele escapa. Em tu me vendo à cabeceira, é porque ele morre.
O homem assim fez; começou a ter muita fama e ganhava muito dinheiro e já estava muito rico mais os filhos.
Num dia a Morte chegou-se ao pé dele e disse-lhe:
— Bem, agora já te fiz rico, mas hoje chegou a tua vez e venho matar-te.
O homem pediu muito que o deixasse viver mais um ano.
A Morte consentiu.
O homem então mandou fazer uma torre de bronze, com as paredes muito grossas, para a Morte lá não entrar.
Quando o ano estava quase a acabar, ele mandou fazer um anel de ouro, meteu-o no dedo e fechou-se na torre.
Estava lá a jantar, e apareceu-lhe a Morte ao pé dele.
Ele, muito assustado, perguntou-lhe:
— Ó comadre Morte, tu por onde é que entraste?
A Morte disse que pelo buraco da fechadura.
Ele então lhe disse:
— Já que tu te meteste pelo buraco da fechadura, hás-de meter-se pelo buraco desta cabaça.
A Morte meteu-se e ele tapou a cabaça com uma rolha e disse à Morte:
— Agora sai daí para fora se és capaz.
A Morte disse-lhe:
— Ó compadre, pois eu fiz-te tanto benefício, e tu agora me queres aqui deixar dentro desta cabaça? Tira-me a rolha, que eu não te faço mal.
O homem tomou a perguntar-lhe se ela não lhe fazia mal.
A Morte disse que não.
Ele destapou a cabaça e, ao tempo que destapou, caiu, mas não morto, e a Morte roubou-lhe o anel.
Ele disse:
— Ó comadre, então tu prometeste-me que não me matavas, e agora me queres matar. Deixa-me ao menos rezar um Padre-Nosso e uma Ave-Maria pela minha alma.
A Morte consentiu.
Ele que fez?
Começou a rezar o Padre-Nosso até ao meio e depois tornava a começar.
De modo que a Morte não o podia matar.
O homem então saiu da torre e começou outra vez na sua vida.
Um dia andava ele à caça e a Morte fingiu-se de morta no meio do monte.
O homem chegou e, julgando que era um homem morto, disse:
— Ah! Pobre homem, quem te matou? Deixa-me ao menos rezar um Padre-Nosso e uma Ave Maria pela tua alma.
Rezou, mas ao tempo que acabou, a Morte levantou-se e matou-o.

Consiglieri Pedroso, in Contos Populares Portugueses
(Enviado por Amauri de Oliveira)

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Pense em coisas lindas



Quando anoitece no vale encantado,
Fica só um fiozinho de luz vermelha
Lá no horizonte.
E todas as crianças do mundo param pra ver o pôr do sol.
Ah, o Deus das fadas fica tão triste se a gente deixa
De ver o pôr do sol!
A linha vermelha, puxa uma carruagem cheia de estrelas,
Onde está a deusas dos sonhos e seu pó mágico,
Que faz a gente sonhar coisas lindas...
Quando você estiver triste,
pense em coisas lindas:
Balas, travessuras, carinho, carrinho, beijo de mãe,
Brincadeira de queimado, árvore de natal,
Árvore de jabuticaba, céu amarelo, bolas azuis,
Risadas, história de avó...
Quando você estiver triste e achar que a vida não é linda
Pense em coisas lindas.
Mas pense com força,
com muita força,
Porque aí o céu vai ficar cheio de vacas gordas amarelas,
Cachorro bonzinho, bruxa simpática,
Sorvete de chocolate, caramelos e amigos
Vamos pensar só em coisas lindas!
Brincar na chuva, boneca nova, boneca velha, bola grande,
Mar verde, submarino amarelo, fruta molhada, banho de rio,
Guerra de travesseiro, boneco de areia, princesas,
Heróis, cavalos voadores...
Ih! já tá anoitecendo no vale encantado!
Dorme em paz, minha criança querida
Vamos pensar em coisas lindas até amanhecer


(Oswaldo Montenegro)

(texto enviado por Amauri de Oliveira)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O Galinheiro de Bartolomeu


Bartolomeu cria galinhas desde muito pequeno.
Galinhas brancas e iguais. Tão iguais que nem nomes elas têm.
Bartolomeu também cuida do jardim e um dia escolheu sua cor favorita para pintar o galinheiro.
Enquanto estava pintando, tropeçou numa galinha, que bateu no poleiro, que caiu sobre o ninho, que bateu no balde que despejou tinta sobre os ovos que estavam por perto.
Mamãe galinha levou um susto, mas seguiu chocando seus ovos.
O tempo passou, o ovo rachou, o pintinho nasceu...
Azul. Um pintinho azulzinho. Bartolomeu gostou tanto, que usou várias cores para pintar o galinheiro e nas horas livres, pintava os ovos também.
Ao nascer, os pintinhos, tinham as cores dos ovos.
Ao ver as galinhazinhas assim, todas coloridas, Bartolomeu passou a chamá-las com nomes de flor.
Margarida era amarela e branca, rosa amarela, rosa vermelha e rosa, ora, rosa mesmo.
Quem via de longe, pensava que o galinheiro era um verdadeiro jardim.
Que penas eram pétalas.
Bartolomeu vivia feliz no seu jardim de galinhas. Mas um dia...
Estava anunciado um temporal e Bartolomeu fechou bem portas e janelas.
O vento começou lento e foi crescendo. Aproximando-se do galinheiro. Chegou tão perto e sacudiu tudo. Rompeu trancas, abriu portas e janelas. O telhado foi levado e num instante o céu ficou todo colorido. Com galinhas formando um arco-íris em movimento. Todo barulhento.
O vento passou e foi sacudir outros ares.
Quanto ao Bartolomeu, não ficou triste não, pegou tinta e pincel e saiu pintando o sete por esse mundão.
Ah, se você encontrar uma galinha colorida, pode ser que seja uma daquelas, revoada do jardim do Bartolomeu. Você viu? Não? Nem eu!

Christina Dias, O Galinheiro de Bartolomeu, Editora Nova América

(História enviada por Roberto Isler)

sábado, 11 de outubro de 2008

O Sapo com Medo d'Água


O sapo é esperto. Uma feita o homem agarrou o sapo e levou-o para os filhos brincarem.
Os meninos judiaram dele muito tempo e, quando se fartaram, resolveram matar o sapo.
Como haviam de fazer?
- Vamos jogar o sapo nos espinhos!
- Espinho não fura meu couro - dizia o sapo
- Vamos queimar o sapo!
- Eu no fogo estou em casa!
- Vamos sacudir ele nas pedras!
- Pedra não mata sapo!
- Vamos furar de faca!
- Faca não me atravessa!
- Vamos botar o sapo dentro da lagoa!
Aí o sapo ficou triste e começou a pedir, com voz de choro:
- Me bote no fogo! Me bote no fogo! N'água eu me afogo! N'água eu me afogo!
- Vamos para a lagoa - Gritaram os meninos.
Foram, pegaram o sapo por uma perna e, t'xim bum, rebolaram lá no meio. O sapo mergulhou, veio em cima d'água, gritando, satisfeito:
- Eu sou bicho d'água! Eu sou bicho d'água!
Por isso quando vemos alguém recusar o que mais gosta, dizemos:
- É sapo com medo d'água...

(In: Contos tradicionais do Brasil de Luís da Câmara Cascudo postado por Amauri de Oliveira)

domingo, 28 de setembro de 2008

O sábio catador de palavras


--Ernesto Rodríguez Abad


Há muitos anos viveu um sábio que queria colecionar todas as palavras do mundo.Procurou pelos países longínquos, falou com reis, rainhas, princesas, heróis e vilões de todo o mundo.
Havia tantas palavras.Eram tão estranhas algumas, tão enigmáticas outras, tão mágicas e loucas outras....
Procurou nas tribos perdidas nas selvas.Subiu as montanhas mais altas,submergiu mares.... e em algumas árvores encontrou entre as folhas palavras tímidas, enroladas como lagartas.Nas flores dos parques viu as mais ternas e delicadas e entre o fogo das fogueiras as mais fortes e ardentes.
Porém o sábio não soube o que fazer com elas e guardou-as dentro de caixas.Elas desorganizadas ou chateadas, sem saber o que fazer e nem como se relacionar, gritavam e pedia liberdade.
Faltava imaginação.
Essa não pode encontrar aquele sábio obstinado pelas palavras estranhas, pelos sons mais cativantes.
Assim, teve que sair em busca daquele ingrediente fundamental para poder brincar com as palavras.
Percorreu sete vezes o mundo,porque nunca se sabe onde encontraremos o que procuramos.Sete noites passou sonhando, mas a imaginação não apareceu em nenhum dos sete sonhos.
Ficou velho e nasceu uma barba branca que arrastava pelo chão. E voava com o vento.Um dia pensou que jamais encontraria a imaginação e sentou-se para descansar.
Diante dele havia um campo cheio de trigo que se movia com o vento e a cada ondulação surgiam desenhos de duendes, fadas, aviões, trens, carruagens de ouro que levavam princesas a bailes encantados.O bater das folhas e dos ramos, parecia uma música que vinha das entranhas da terra.
A imaginação, pela primeira vez, se divertia com o sábio.Ele , correu para casa abriu a biblioteca, tirou o pó das prateleiras e destampou as caixas.
A primeira palavras a sair foi liberdade e depois atropeladas, saíram todas.Emaranhavam-se pelas barbas do sábio; algumas preguiçosas e lentas, outras divertidas e descaradas e outras ousadas meteram-se pelos ouvidos do sábio dizendo-lhes segredos que ninguém sabia.
Dentro do sábio amontoaram-se histórias, se organizaram sons, frases, versos.Entretanto faltava uma voz.Sem ela , as palavras não podiam sair e brincar com o ar.
Faltava que aqueles contos recebessem vida e se emocionassem com os sons carregados de sentimentos.
Contam que não se soube nunca de onde veio.
Contam que um ser com a voz cheia de sóis e de luas, de estrelas , de mares e de arco-íris apareceu para cantar e contar as palavras do sábio.
Contam que há muitos séculos nasceu o primeiro narrador oral ou contador de histórias.


(história enviada por Amauri de Oliveira)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Um amor de confusão

Dona galinha um ovo botou.
Mas, quando foi passear, outros dois ovos no caminho ela encontrou.
Um ovo mais dois ovos, com três ovos ela ficou.
Dona galinha os três ovos em seu ninho colocou.
Mas, quando foi passear, outros dois ovos no caminho ela encontrou.
Três ovos mais dois ovos, com cinco ovos ela ficou.
Dona galinha os cinco ovos em seu ninho colocou.
Mas, quando foi passear, mais três ovinhos ela encontrou.
Cinco ovos mais três ovos, com oito ovos ela ficou.
Dona galinha os oito ovos em seu ninho arrumou.
Mas, quando foi passear, mais um ovo ela achou, com nove ovos ela ficou.
Dona galinha os nove ovos em seu ninho ajeitou.
Mas, quando foi passear, um ovo enorme ela encontrou.
Nove ovos mais um ovo, com dez ovos ela acabou. E, com paciência e carinho, os dez ovos dona galinha chocou.
Mas que surpresa não foi, no dia em que os ovos se abriram.
Vocês nem podem imaginar os bichos que das cascas saíram.
Nasceu ganso, pato, marreco e tartaruga.
Apareceu codorna, perdiz, pintinho e até um jacaré.
Agora eu só quero ver a confusão que vai ser na hora que essa turma sair para comer...

Dulce Rangel
(História enviada por Neusa Lúcia Braga Cia)

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

A MARGARIDA FRIORENTA


(Fernanda Lopes de Almeida)

Era uma vez uma margarida em um jardim.
Quando ficou de noite a margarida começou a tremer.
Ai passou a Borboleta Azul. A borboleta parou de voar.
- Por que você esta tremendo?
- Frio!
- Oh! E horrível ficar com frio! E logo em uma noite tão escura!
A Margarida deu uma espiada na noite.E se encolheu nas suas folhas.
A Borboleta teve uma idéia:
- Espere um pouco! E voou para o quarto de Ana Maria.
-Psiu, acorde
-Ah? E você, Borboleta? Como vai?
- Eu vou bem. Mas a Margarida vai mal.
- O que e que ela tem?
- Frio coitada!
- Então já sei o remédio. É trazer a Margarida para o meu quarto.
- Vou trazer já.
A Borboleta pediu ao cachorro Moleque:
- Você leva esse vaso para o quarto da Ana Maria?Moleque era muito inteligente e levou o vaso muito bem.
Ana Maria abriu a porta para eles. E deu um biscoito para Moleque.
A Margarida ficou na mesa de cabeceira.Ana Maria se deitou.Mas ouviu um barulhinho. Era o vaso balançando. A Margarida estava tremendo!
- Que e isso?
- Frio!
- Ainda? Então já sei! Vou arranjar um casaquinho para você.Ana Maria tirou o casaquinho da boneca. Porque a boneca não estava com frio nenhum.E vestiu o casaquinho na Margarida.
- Agora, você esta bem. Durma e sonhe com os anjos.
Mas quem sonhou com os anjos foi Ana Maria. A Margarida continuou a tremer.Ana Maria acordou com o barulhinho
Outra vez? Então já sei. Vou arranjar uma casa para você!
E Ana Maria arranjou uma casa para Margarida.Mas quando ia adormecendo ouviu outro barulhinho...
Era a Margarida tremendo.
Então Ana Maria descobriu tudo.
Foi lá e deu um BEIJO na Margarida.
A Margarida parou de tremer.
E dormiram muito bem a noite toda.
No dia seguinte Ana Maria disse para a Borboleta Azul:
-Sabe Borboleta? O frio da Margarida não era frio de casaco não!
E a Borboleta respondeu:
- Ah! Entendi!

POR QUE O CACHORRO É INIMIGO DE GATO...E GATO DE RATO


Antigamente todos os bichos eram amigos e o leão governava todos. Cachorro, gato, rato, ovelha, onça, raposa, timbu, pinto, tudo vivia junto e sem briga.

Uma feita Nosso Senhor mandou o leão libertar os bichos, passando carta de alforria a todos, para que pudessem ir onde quisessem. Havia muita contenteza. O leão chamou os bichos mais ligeiros e entregou as cartas de liberdade para ir dando aos outros animais.

Chamou o gato e deu a ele a carta de alforria do cachorro. O gato saiu numa carreira danada. No caminho encontrou o rato que estava entretido bebendo mel de abelhas.

- Camarada gato! Para onde vai nesse desadoro?

- Vou entregar essa carta ao camarada cachorro!

- Deixe de vexame! Descanse e beba esse melzinho gostoso.

O gato foi lamber o mel e tanto lambeu e gostou que acabou enfarado e dormindo. O rato, de curioso, foi cascavalhar a bruaca que o gato trazia a tiracolo e encontrou uns papéis. Meteu o dente, roendo, roendo, roendo, e deixou tudo virado em bagaço. Vendo que fizera uma desgraça, fez um bolo e sacudiu dentro da bruaca do gato e ganhou a mata.

O gato, acordando, largou numa carreira "timive" até encontrar o cachorro, a quem entregou o papel. O cachorro foi ler e viu que tudo estava esbagaçado e roído. Não podia provar ao homem que era bicho-livre e ficou zangado de ferro e fogo com o gato, dando uma carreira atrás dele para matá-lo. O gato, por sua vez, sabendo que aquilo era trabalho do rato, não procurou coisa senão passar-lhe o dente para vingar-se.

E até hoje, cachorro, gato e rato, são inimigos até debaixo dágua.

(Cascudo, Luís da Câmara. Contos tradicionais do Brasil enviado por Amauri de Oliveira)

domingo, 24 de agosto de 2008

Caçando sapo, comendo mosca


Um dia me falaram:
- Vá caçar sapo!
E eu fui.
Peguei lanterna e um saco e me mandei. Andei, andei, até que cheguei.
Era um brejo cheio de coaxos e cricrilos. Olhei, procurei, espiei. E de repente encontrei. É, de olhos esbugalhado, lá estava ele, um gordo e rugoso sapo. Quando apontei a lanterna na cara do bicho, o danado gritou:
- Apaga o facho.
Então, também de olhos esbugalhado, gaguejei :
- Vo...você fa... Fala?
o danado boquejou :
- Vo... Você escuta? Então apaga!
Mais que depressa, apaguei a lanterna.
- Assim é melhor, tenho olhos sensíveis, sabia?
Naquela altura do campeonato, eu não sabia de mais nada.
- O que você veio fazer aqui? O sapo quis saber.
Tentei disfarçar, escondi o saco e respondi :
- Vim tomar um ar.
Mas já era tarde, pois ele tinha espichado os olhos e visto o saco.
- Sei. E aproveitou pra trazer o saco pra apanhar vento?
Corei de vergonha e confessei:
- A verdade é que me mandaram caçar sapo, seu sapo.
- E pra quê?
- Sei lá.
- Se não sabe, quem sabe?
- Não sei, só sei que não sei.
- Não sei não. Um saco para por um sapo...
- Só se for pra bater o papo.
- Mas sapo não bate papo.
- Mas nós não estamos batendo, seu sapo?
- É, estamos. Concordou o sapo.
- Então, não quer entrar no saco?
- Pra quê?
- Pra ver o por quê.
- Não sei, só sei que não sei.
- Então, dá uma sacada. Abri o saco pro sapo.
Ele espiou, espiou e falou :
- Não. Não entro no saco e fim de papo.
E saiu saltando.
Eu fiquei ali, comendo moscas.
Mas que sapo sabido.
- Hei, seu sapo. O senhor é um sábio?
Ele, de longe, coaxou:
- Não, não sei se sou.
E sumiu na escuridão.
Voltei com o saco sem o sapo, só matutando...
-“Eita” sapo sortudo sô.
(História escrita e enviada por Roberto Isler)

domingo, 17 de agosto de 2008

A Galinha dos Ovos de Ouro


Era uma vez um homem muito pobre. Tão pobre que, na sua casa - uma cabaninha de pedra no limiar do bosque - não havia sequer uma cama. O recheio da casa consistia numa mesa, uma cadeira, uma tigela e uma colher de madeira. Além disso, fosse de Verão ou de Inverno, o pobre homem trazia sempre vestida a única roupa que possuía: farrapos. Em relação à alimentação, não se pode dizer que as coisas corressem melhor, pois passava o ano a comer frutos silvestres, raízes e chicória. Só com a chegada do Outono é que variava, comendo as castanhas que ia apanhando aqui e ali. Com fartura apenas tinha água, pois corria um riacho ao lado da sua cabana.Certa tarde em que se anunciava uma violenta tempestade, o pobre homem, de estômago vazio, tremia de frio deitado na enxerga. Foi nessa altura que bateram suavemente na porta três vezes.«Quem será?» - perguntou a si mesmo. - «Nunca vem ninguém para estes lados... e ainda por cima com este tempo!»Levantou-se e foi abrir a porta.Encontrou um velho com uma longa barba branca, envolto num pesado manto, com um grande alforje a tiracolo.- Bom dia - disse. - Espero não vir incomodá-lo. Ia a passar e fui surpreendido pela tempestade. Posso descansar durante algum tempo e sentar-me à beira do lume?- Claro! Entre! - respondeu o pobre. - Mas não pense que vai encontrar aqui calor ou um banco onde se possa sentar... Como vê, aqui não há nada, mesmo nada... No entanto, se quiser, pode acomodar-se.O velho sentou-se e começou a falar disto e daquilo. Enquanto conversava, os seus olhos iam inspecionado o casebre. Por fim, comentou:- Você não deve passar nada bem, vivendo aqui...
- Só por milagre é que ainda não morri de fome. Não como há quase dois dias.- Ah, lá por isso...O velhote tirou então do alforje pão, queijo e um cantil de pele cheio de vinho que, de seguida, dividiu com o dono da casa. Este, só de ver comida, quase ia perdendo os sentidos.Terminada a refeição, o velho levantou-se e disse: - Agora tenho de o deixar, bom homem. A minha estrada é longa, muito longa...Em seguida, meteu a mão numa dobra do grande manto, até àquele momento cuidadosamente fechado, e retirou algo que, depois, pousou no chão de terra batida.O pobre homem ficou surpreendido. Tratava-se de uma galinha, de uma linda galinha vermelha que, mal se viu livre, começou a saltitar pelo quarto, debicando as migalhas de pão que haviam ficado do jantar.- Trate bem dela, peço-lhe. Resista à tentação de a comer, pois, como verá, ela põe um ovo todos os dias.Dizendo estas palavras o velho sorriu e pareceu-me piscar o olho, mas talvez tenha sido apenas uma impressão. Depois, acrescentou:- Há-de ver que ela lhe dará muitas alegrias.Fez um último aceno de despedida, abriu a porta e desapareceu no meio da tempestade.«Uma galinha, uma galinha...», ia repetindo de si para si o homem. «Como terá ele conseguido mantê-la sossegada durante aquele tempo todo debaixo do seu manto? Isto é tudo muito esquisito!» Estendeu-se de novo na enxerga e adormeceu profundamente. Na manhã seguinte, ao acordar, nem sequer se lembrava que tinha um animal em casa. Mas, quando esticou as pernas para se espreguiçar, sentiu que havia qualquer coisa fria e lisa aos pés da sua pobre cama. Levantou a cabeça olhou para o fundo da sua enxerga e viu um grande ovo. Mas não era um ovo branco como os outros; era amarelo e brilhante... de ouro! Era de ouro maciço!com as suas mãos, de verificar o seu peso, de o polir com uma ponta da sua túnica esfarrapada, enquanto a galinha saltitava à sua volta como se não fosse nada.À noite o pobre quase não conseguiu dormir, tal a excitação que sentia. E maior foi o seu espanto quando, ao acordar, encontrou um segundo ovo na enxerga.Foi então que pensou: «Vou esperar por ter uma dúzia e, depois, irei à cidade vendê-la. E assim fez. Com o dinheiro que ganhou comprou uma casinha com um terreno que começou a cultivar. Contudo, ao fim de um mês disse para si próprio: «Que tolo eu sou! Para quê trabalhar se agora sou rico?»Então, vendeu a casa e o terreno e comprou um palácio. Tinha muitos criados, passeava de liteira, dava jantares e festas suntuosas e rapidamente conheceu os cidadãos mais poderosos.Mas depressa sentiu que nem toda esta riqueza lhe bastava. O seu desejo era tornar-se o rei da região. Para o conseguir teria que formar um exército e marchar em direção à capital. Quantos ovos de ouro seriam necessários para comprar todos aqueles soldados? E quanto tempo de espera?Um dia pôs-se a pensar: «É evidente que, se esta galinha põe ovos de ouro, deve ter ouro na barriga...e deve ser tanto, tanto... Que estúpido sou eu em esperar, quando posso conseguir tudo de uma só vez!»Sem pensar duas vezes subiu em direção ao grande terraço onde, às escondidas dos criados e dos amigos, guardava a galinha. Então, prendeu o animal e, sem piedade e nenhum reconhecimento pelo que ele lhe fizera, cortou-lhe o pescoço.E eis que, como por encanto, tudo desapareceu: desapareceu o palácio, desapareceu a criadagem, desapareceram os cofres cheios de dinheiro e até as ricas roupas que vestia desapareceram. Deu consigo envolto pela escuridão e acossado pela tempestade, só e andrajoso, diante da porta da sua cabana, mais pobre que nunca.

FIM

Moral da história: «quem tudo quer, tudo perde».
(História enviada por Amauri de Oliveira)

sexta-feira, 25 de julho de 2008

O NASCIMENTO DA LUA


(Coby Hol - Ed. Brinque-Book)
Muito tempo atrás, durante a noite, tudo era negro, e os animais tinham medo da escuridão.
Então, eles pediram ao Sol, que os iluminassem também durante a noite.
- Eu não posso – respondeu o Sol, - preciso clarear o outro lado da Terra.
Mas, quem sabe ..... tive uma idéia.
Olhem para o céu esta noite e terão uma surpresa.
Os animais ficaram impacientes.
Quando a noite chegou, descobriram no céu uma fatia de luz.
- Viva ! – exclamaram.
- Oh, muito obrigada, Sol.
Na manhã seguinte, o Sol perguntou aos animais se estavam satisfeitos.
- Sim - Eles responderam..
- Mas será que você poderia aumentar um pouco mais a fatia de luz ?
- Vou tentar – respondeu o Sol.
E naquela noite a fatia de luz cresceu um pouco.
E a cada noite a fatia de luz crescia e crescia, até se tornar
Uma bela Lua bem redonda.
Mas os animais rapidamente se acostumaram àquela luz da noite.
Não se encantaram mais, e nem mesmo se lembravam de agradecer ao Sol.
Então, o Sol ficou desapontado, e deixou a Lua ir minguando, pouco a pouco, até finalmente desaparecer por completo.
E aquela noite, foi a mais escura de todas.
- Como fomos ingratos – Lamentaram-se os animais.
Eles foram suplicar ao Sol.
- Perdoe-nos !
Faça com que a Lua retorne.
Sem ela não enxergamos nada.
- Está bem – respondeu o Sol.
- Mas, a partir de hoje, a Lua nunca mais deixará de crescer e depois diminuir.
Assim vocês jamais se esquecerão do presente que eu lhes dei.
E, desse dia em diante, quando o Sol se esconde, a Lua ilumina a noite e protege os animais.


(História enviada por Jurema - SP)

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Receita de mãe

Pegue uma vasilha bem grande, bem funda e bem aconchegante.

Uma colher feita com madeira de laranjeira.

Misture ingredientes especiais dessa maneira:

Uma porção de amor

Um tico de sim

Um teco de não

Um punhado de açúcar

Uma pitada de sal

Bota um suspiro de emoção...Ai...ai...

Beijo de montão.

Não esqueça da paciência, do carinho e da compreensão.

Coloque também, de palavras de neném:

Gugu, dadá, bilú, bilú, dandá pra ganhar papá.

Mexa com ternura toda a mistura.

Mas cuidado!

Se errar nos ingredientes...

Gente, a receita pode dar errada.

Aí, ao invés de sair mãe...

Ai...ai...

Vai dar pai!

Prontinho, nossa mãe foi feita de carinho.

(Texto escrito e enviado por Roberto Isler)

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Piaba


Sai, sai, sai, piaba,

sai lá da lagoa.

Sai, sai, sai, piaba

sai lá da lagoa.


Põe a mão na cabeça.

Poe a mão na cintura.

Dá um remelexo no corpo,

dá um abraço doçura!


(Música do folclore postada por Amauri de Oliveira, a pedido dos alunos do curso de contação da Casa Encantada)

segunda-feira, 16 de junho de 2008

O caso do espelho


(Ricardo Azevedo)

Era um homem que não sabia quase nada. Morava longe, numa casinha de sapé esquecida nos cafundós da mata. Um dia, precisando ir à cidade, passou em frente a uma loja e viu um espelho pendurado do lado de fora. O homem abriu a boca. Apertou os olhos. Depois gritou, com o espelho nas mãos: - Mas o que é que o retrato de meu pai está fazendo aqui?
- Isso é um espelho - explicou o dono da loja.
- Não sei se é espelho ou se não é, só sei que é o retrato do meu pai.
Os olhos do homem ficaram molhados.
- O senhor... conheceu meu pai? - perguntou ele ao comerciante.
O dono da loja sorriu. Explicou de novo. Aquilo era só um espelho comum, desses de vidro e moldura de madeira.
- É não! - respondeu o outro. - Isso é o retrato do meu pai. É ele sim! Olha o rosto dele. Olha a testa. E o cabelo? E o nariz? E aquele sorriso meio sem jeito?
O homem quis saber o preço. O comerciante sacudiu os ombros e vendeu o espelho, baratinho. Naquele dia, o homem que não sabia quase nada entrou em casa todo contente. Guardou, cuidadoso, o espelho embrulhado na gaveta da penteadeira. A mulher ficou só olhando.
No outro dia, esperou o marido sair para trabalhar e correu para o quarto. Abrindo a gaveta da penteadeira, desembrulhou o espelho, olhou e deu um passo atrás. Fez o sinal da cruz tapando a boca com as mãos. Em seguida, guardou o espelho na gaveta e saiu chorando.
- Ah, meu Deus! — gritava ela desnorteada. - É o retrato de outra mulher! Meu marido não gosta mais de mim! A outra é linda demais! Que olhos bonitos! Que cabeleira solta! Que pele macia! A diaba é mil vezes mais bonita e mais moça do que eu!
- Quando o homem voltou, no fim do dia, achou a casa toda desarrumada. A mulher, chorando sentada no chão, não tinha feito nem a comida.
- Que foi isso, mulher?
- Ah, seu traidor de uma figa! Quem é aquela jararaca lá no retrato?
- Que retrato? - perguntou o marido, surpreso.
- Aquele mesmo que você escondeu na gaveta da penteadeira!
O homem não estava entendendo nada.
- Mas aquilo é o retrato do meu pai!
Indignada, a mulher colocou as mãos no peito: - Cachorro sem-vergonha, miserável! Pensa que eu não sei a diferença entre um velho lazarento e uma jabiraca safada e horrorosa?
A discussão fervia feito água na chaleira.
- Velho lazarento coisa nenhuma! - gritou o homem, ofendido.
A mãe da moça morava perto, escutou a gritaria e veio ver o que estava acontecendo. Encontrou a filha chorando feito criança que se perdeu e não consegue mais voltar pra casa.
- Que é isso, menina?
- Aquele cafajeste arranjou outra!
- Ela ficou maluca - berrou o homem, de cara amarrada.
- Ontem eu vi ele escondendo um pacote na gaveta lá do quarto, mãe! Hoje, depois que ele saiu, fui ver o que era. Tá lá! É o retrato de outra mulher!
A boa senhora resolveu, ela mesma, verificar o tal retrato. Entrando no quarto, abriu a gaveta, desembrulhou o pacote e espiou. Arregalou os olhos. Olhou de novo. Soltou uma sonora gargalhada.
- Só se for o retrato da bisavó dele! A tal fulana é a coisa mais enrugada, feia, velha, cacarenta, murcha, arruinada, desengonçada, capenga, careca, caduca, torta e desdentada que eu já vi até hoje!
E completou, feliz, abraçando a filha: - Fica tranqüila. A bruaca do retrato já está com os dois pés na cova!

(Versão de conto popular de origem chinesa)

(História enviada por Marília Tresca)

quinta-feira, 5 de junho de 2008

O Sapo e o Boi


Era uma vez um lago e no lago tinha brejo e no brejo tinham um bichos que andavam saltando e fazendo assim: Coach, coach, coach. Eram os: sapos!
Com vocês a história: - O sapo e o boi!
No brejo, com água por todo lado, plantas aquáticas e sapos engraçados. Os sapos estava no brejo. Saltando e cantando... : O sapo não lava o pé. Não lava por que não quer! Ele mora lá na lagoa, não lava o pé por que na quer. Mas que chulé!
No brejo tinha um sapo que queria ser maior que todos. Ele se chamava Gueri Gum.
Quando o sapo via um sapo maior que ele já inchando, bufando, estufando e perguntando: Estou maior que os sapos?
Nãoooooooooooo!
Ah, é? Então la vai! e inchava. Estou maior que os sapos?
Está!
Aí ele desinchava. Até que um dia apareceu no brejo um animal grande, um animal enorme, que fazia: Muuuuuuuuuuu, muuuuuuuuuu. Era o...Boi! Que começou a beber água.
Quando o sapo viu aquele animal colossal, não se conformou e inchou, bufou, estufou e perguntou: Estou maior que o boi?
Nããããããããão!
E inchou mais. Estou maior que o boi?
Nããããããããão!
E inchou mais. Estou maior que o boi?
Nããããããããão!
E inchou mais. Estou maior que o boi?
Nããããããããão!
Estou maior... Ai! Até que arrebentou!
Ele morreu. Bem feito. A gente não deve nunca querer ser o que não é. Sapo é sapo e boi é boi, não é pessoal?
Se bem que tem um sapo que chama sapo boi...
(História de Amauri de Oliveria e Roberto Isler enviada pelos próprios)

segunda-feira, 2 de junho de 2008

O Peixinho


Comprei um peixinho
lindo e vermelhinho
boteu no aquário
para ele morar!


O peixinho nada
nada ligeirinho
eu não sou peixinho
mas já sei nadar!



(História enviada por Amauri de Oliveira a pedido dos alunos do curso de formação de contadores da Casa Encantada)

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Ananse e o baú de histórias


Existe uma lenda africana que nos conta que houve um tempo em que na Terra não havia histórias para se contar, pois todas pertenciam a Nayane, o Deus dos céus.

Kwaku Ananse, o homem Aranha, queria comprar as histórias de Nyame, o Deus do céu, para contar ao povo de sua aldeia, então por isso um dia, ele teceu uma imensa teia de prata que ia do céu até o chão e por ela subiu. Quando Nyame ouviu Ananse dizer que queria comprar as sua histórias, ele riu muito e falou:

_ O preço de minhas histórias, Ananse, é que você me traga Osebo, o leopardo de dentes terríveis, Mmboro os marimbondos que picam como fogo e Moatia a fada que nenhum homem viu.

Ele pensava que com isso, faria Ananse desistir da idéia, mas ele apenas respondeu:

_Pagarei seu preço com prazer,ainda lhe trago Ianysiá, minha velha mãe, sexta filha de minha avó.

Novamente o Deus do céu riu muito e falou:

_Ora Ananse, como pode um velho fraco como você, tão pequeno, tão pequeno, tão pequeno, pagar o meu preço?

Mas Ananse nada respondeu, apenas desceu por suas teias de prata que ia do céu até o chão para pegar as coisas que Deus exigia. E correu por toda a selva até que encontrou Osebo, leopardo de dentes terríveis.

Aha, Ananse!. Você chegou na hora certa para ser meu almoço.

Oque tiver de ser será, disse Ananse. Mas primeiro vamos brincar do jogo de amarrar?

O leopardo que adorava jogos, logo se interessou.

Como se joga esta jogo?

Com cipós, eu amarro você pelo pé e pelo pé com o cipó, depois eu desamarro, ai, é a sua vez de me amarrar. Ganha quem amarrar e desamarrar mais depressa.

Muito bem - rosnou o leopardo que planejava devorar o Homem Aranha assim que o amarrasse.

Ananse, então, amarrou Osebo pelo pé, pelo pé, pelo pé e pelo pé, e quando ele estava bem preso, pendurou - o amarrado a uma árvore dizendo:

_Agora Osebo, você está pronto para encontrar Nyame o Deus do céu.

Ai, Ananse cortou uma folha de bananeira, encheu uma cabaça com água e atravessou o mato alto até a casa de Mmboro. Lá chegando, colocou a folha de bananeira sobre sua cabeça, derramou um pouco de água sobre si, e o resto sobre a casa de Mmboro dizendo:

_ Está chovendo, chovendo, chovendo, vocês não gostariam de entra na minha cabaça para que a chuva não estrague suas asas?

Muito obrigado! Muito obrigado! - zumbiram os marimbondos entrando para dentro da cabaça que Ananse tampou rapidamente.

O homem Aranha, então, pendurou a cabaça na árvore junto a Osebo dizendo:

_Agora Mmboro, você está pronto para encontrar Nyame o Deus do Céu.

Depois, ele esculpiu uma boneca de madeira, cobriu - a de cola da cabeça aos pés, e colocou - a aos pés de um flamboyant onde as fadas costumam dançar. À sua frente, colocou uma tigela de inhame assado, amarrou a ponta de um cipó em sua cabeça, e foi se esconder atrás de um arbusto próximo, segurando a outra ponta do cipó, e esperou.

Minutos depois, chegou Moatia, a fada que nenhum homem viu. Ela veio dançando, dançando, dançando, como só as fadas africanas sabem dançar, até aos pés do flamboyant. Lá, ela avistou a boneca e a tigela de inhame.

Bebê de borracha - disse a fada - estou com tanta fome, poderia dar - me um pouco do seu inhame?

Ananse puxou a sua ponta do cipó para que parecesse que a boneca dizia sim com a cabeça, a fada, então, comeu tudo, depois agradeceu:

_Muito obrigada bebê de borracha.

Mas a boneca nada respondeu, a fada, então, ameaçou:

Bebê de borracha, se você não me responde, eu vou te bater.

E como a boneca continuou parada, deu - lhe um tapa ficando com a mão presa na sua bochecha cheia de cola. Mais irritada ainda, a fada ameaçou de novo:

_Bebê de borracha, se não me responde, eu vou lhe dar outro tapa.

E como a boneca continuou parada, deu - lhe um tapa ficando agora, com as duas mãos presas. Mais irritada ainda, a fada tentou livrar - se com os pés, mas eles também ficaram presos. Ananse então, saiu de trás do arbusto, carregou a fada até a árvore onde estavam Osebo e Mmboro dizendo:

Agora Mmoatia, você está pronta para encontrar Nyame o Deus do céu.

Ai, ele foi a casa de Ianysiá sua velha mãe, sexta filha de sua avó e disse:

_Ianysiá venha comigo vou dá - la a Nyame em troca de suas histórias.

Depois ele teceu uma imensa teia de prata em volta do leopardo, dos mrimbondos e da fada, e uma outra que ia dochão até o céu e por ela subiu carregando seus tesouros até os pés do trono de Nyame.

Ave Nyame! - disse ele - aqui está o preço que você pede por suas histórias; Osebo, o leopardo de dentes terríveis, Mmboro, os marimbondos que picam como fogo e Moati, a fada que nenhum homem viu. Ainda lhe trouxe Ianysiá minha velha mãe, sexta filha de minha avó.

Myame ficou maravilhado, e chamou todos de sua corte dizendo:

O pequeno Ananse, trouxe o preço que peço pelas minhas histórias, de hoje em diante e para sempre, elas pertencem a Ananse e serão chamadas de histórias do Homem Aranha! Cantem em seu louvor!.

Ananse maravilhado, desceu por sua teia de prata levando consigo o baú das histórias até o povo de sua aldeia, e quando ele abriu o baú, as histórias se espalharam pelos quatro cantos do mundovindo chegar até aqui. Entrou por uma porta, saiu pela outra, quem quiser que conte outra.



(Mito africano de pelo menos 400 anos enviado por Roberto Isler)

terça-feira, 20 de maio de 2008

Príncipe Cinderelo


Babette Cole


O príncipe Cinderelo nem parecia príncipe.
Era baixinho, sardento, magricela e andava molambento.
O príncipe tinha três irmãos enormes, muito peludos, que viviam caçoando do jeito dele. Eles iam sempre à discoteca do Palácio com namoradas princesas, e faziam o pobre Cinderelo ficar em casa, limpando o que eles sujavam.
Quando terminava o trabalho, o Príncipe sentava perto do fogo e sonhava em ser enorme e peludo como os irmãos.
Um sábado à noite, quando ele estava lavando as meias, uma fada muito sujinha caiu pela chaminé.
“Todos os seus desejos serão realizados. Ziz Ziz Bum , Tique TAQUE Tarro, esta lata vazia vai virar um carro”, gritou a fada.
“Bife Bangüê Bongue, Pec Peteca, você vai à discoteca”.
“Não deu muito certo!”, disse a fada, vendo que a lata tinha se transformado em um patins.
“Dedo de rato e mosca de sopa, seus trapos vão virar uma linda roupa!”
(“ Droga, pensou a fada, “não era para ser uma roupa de BANHO!”)
“Agora o que deseja mais do que tudo: você SERÁ enorme e peludo!”
O príncipe Cinderelo se tornou enorme e peludo mesmo! “Ratos me mordam!’, disse a fada. “Deu errado de novo, vendo que ele se transformou em um enorme macaco peludo, mas tenho certeza de que tudo vai se acabar à meia noite!”
Mas, por causa do tipo de encantamento, o Príncipe Cinderelo não sabia que tinha virado um macaco enorme e peludo. Ele achava que estava muito bonito!
Assim, lá se foi o Príncipe Cinderelo para a discoteca., montado com um pé só sobre o patins.
Mas, quando chegou ao Embalo Real, percebeu que era grande demais para passar pela porta.
Resolveu tomar um ônibus para voltar para casa.
Uma bela princesa estava esperando no ponto. “Quando passa o próximo ônibus ?”, ele grunhiu.
Por sorte bateu meia-noite e o Príncipe Cinderelo voltou a se transformar nele mesmo.
A princesa achou que ele tinha afugentado o macaco enorme e peludo, para salvá-la!
“Espere!”, ela gritou, mas o Príncipe Cinderelo era muito tímido. Saiu correndo e até perdeu a calça! A princesa era justamente a bela e rica Princesa Belarrica. Ela mandou anunciar que estava à procura do dono daquela calça.
Todos os Príncipes da redondeza tentaram vestir a calça à força. Mas ela se retorcia e se recusava a entrar em cada um deles! É claro que os irmãos do Príncipe Cinderelo tentaram vestir a calça , os três ao mesmo tempo...
“ Deixe-o tentar “ , ordenou a Princesa apontando para o Cinderelo. “A calça não vai servir nesse garoto atrevido”, reclamaram os irmãos.
...Mas serviu! Na mesma hora a Princesa Belarrica o pediu em casamento.
Assim o Príncipe Cinderelo se casou com a Princesa Belarrica e viveu luxuosamente e feliz para sempre...
E a Princesa Belarrica teve uma conversinha com a fada sobre os três irmãos enormes e peludos... que ela transformou em fadas domésticas.
E eles esvoaçaram pelo palácio fazendo o serviço da casa...para sempre.
(História enviada por Neusa Lucia Braga Cia)

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Como Nasceram as Estrelas



Pois é, todo mundo pensa que sempre houve no mundo estrelas pisca-pisca. Mas é erro. Antes os índios olhavam de noite para o céu escuro - e bem escuro estava esse céu. Um negror. Vou contar a história singela do nascimento das estrelas.
Era uma vez, no mês de janeiro, muitos índios. E ativos: caçavam, pescavam, guerreavam. Mas nas tabas não faziam coisa alguma: deitavam-se nas redes e dormiam roncando. E a comida? Só as mulheres cuidavam do preparo dela para terem todos o que comer. Uma vez elas notaram que faltava milho no cesto para moer. Que fizeram as valentes mulheres? O seguinte: sem medo enfurnaram-se nas matas, sob um gostoso sol amarelo. As árvores rebrilhavam verdes e embaixo delas havia sombra e água fresca. Quando saíam de debaixo das copas encontravam o calor, bebiam no reino das águas dos riachos buliçosos. Mas sempre procurando milho porque a fome era daquelas que as faziam comer folhas de árvores. Mas só encontravam espigazinhas murchas e sem graça.
- Vamos voltar e trazer conosco uns curumins. (Assim chamavam os índios as crianças.) Curumim dá sorte.
E deu mesmo. Os garotos pareciam adivinhas as coisas: foram retinho em frente e numa clareira da floresta - eis um milharal viçoso crescendo alto. As índias maravilhadas disseram: toca a colher tanta espiga. Mas os garotinhos também colheram muitas e fugiram das mães voltando à taba e pedindo à avó que lhes fizesse um bolo de milho. A avó assim fez e os curumins se encheram de bolo que logo se acabou. Só então tiveram medo das mães que reclamariam por eles comerem tanto. Podiam esconder numa caverna a avó e o papagaio porque os dois contariam tudo. Mas - e se as mães dessem falta da avó e do papagaio tagarela? Aí então chamaram os colibris para que amarrassem um cipó no topo do céu. Quando as índias voltaram ficaram assustadas vendo os filhos subindo pelo ar. Resolveram, essas mães nervosas, subir atrás dos meninos e cortar o cipó embaixo deles. Aconteceu uma coisa que só acontece quando a gente acredita: as mães caíram no chão, transformando-se em onças. Quanto aos curumins, como já não podiam voltar para a terra, ficaram no céu até hoje, transformados em gordas estrelas brilhantes.
Mas, quanto a mim, tenho a lhes dizer que as estrelas são mais do que curumins. Estrelas são os olhos de Deus vigiando para que corra tudo bem. Para sempre. E, como se sabe, "sempre" não acaba nunca.

Clarice Lispector (Como nasceram as estrelas - Doze lendas brasileiras)
(História enviada por Amauri de Oliveira)

terça-feira, 13 de maio de 2008

Se as coisas fossem mães


Se a lua fosse mãe, seria a mãe das estrelas,
o céu seria sua casa, casa das estrelas belas.


Se a sereia fosse mãe, seria mãe dos peixinhos,
o mar seria um jardim e os barcos seus caminhos.


Se a casa fosse mãe, seria a mãe das janelas,
conversaria com a lua sobre as crianças estrelas,
falaria de receitas, pastéis de vento, quindins,
emprestaria a cozinha para a lua fazer pudins.


Se a terra fosse mãe, seria mãe das sementes,
pois mãe é tudo que abraça, acha graça e ama a gente.


Se a fada fosse mãe, seria a mãe da alegria,
toda mãe é um pouco fada. Nossa mãe fada seria.


Se a bruxa fosse mãe, seria uma mãe gozada,
seria mãe das vassouras, da família vassourada.


Se a chaleira fosse mãe, seria mãe da água fervida,
faria chá e remédio para as doenças da vida.


Se a mesa fosse mãe, as filhas, sendo cadeiras,
sentariam comportadas, teriam “boas maneiras”.


Cada mãe é diferente: mãe verdadeira ou postiça
mãe vovó e mãe titia, Maria Filó, Francisca,
Gertrudes,Malvina, Alice,
toda mãe é como eu disse.


Ri, esquece, lembra e chora, traz remédio e sobremesa
...Tem até pai que é tipo mãe ... Esse então é uma beleza!


Para a mãe de todo mundo e para todo mundo que é mãe.Um abração desssssssssssssssssssssssssssse tamanhão!

Texto: Sylvia Orthof

(História envida por Amauri de Oliveira)

segunda-feira, 5 de maio de 2008

A Fada das Chupetas


Era uma vez... Uma fada que se chamava Haide...
A Haide gostava muito de aventuras...
Ela queria ser uma fada diferente...
Então ela foi falar com a rainha das fadas e pediu que desse a ela um dom diferente das outras fadas.
E a rainha que era muito boa... boníssima...atendeu seu pedido...disse que ela seria a fada madrinha das chupetas.
Quem aqui já ouviu falar da fada madrinha das chupetas?
Pois a Haide também não... e ela perguntou...
_Mas soberana rainha, o que faz uma fada madrinha das chupetas?
E a rainha... que era muito boa...boníssima...com muita paciência respondeu:
_Sua missão será sair à noite, enquanto todas as crianças dormem pegar as suas chupetas e elevar lá para o céu. E com elas construir uma estrela. Mas não será uma estrela qualquer. Será uma estrela bem diferente... radiante...
E assim fazia Haide. Todas as noites enquanto as crianças a dormiam recolhia a chupeta deixava um doce no lugar, fazia uma troca e as levava para o céu.
Mas ultimamente a Haide andava muito triste, pois poucas crianças queriam doar as chupetas e ela não estava conseguindo terminar a estrela. Mesmo assim a Haide não desistiu. Ela era persistente e acreditava que iria conseguir.
Certa noite ela estava passando por uma rua pensando em qual casa iria entrar. De repente ela viu algo que chamou sua atenção. Não era possível! Será que seus olhos estavam lhe pregando uma peça? Então Haide se aproximou bem devagar, com medo que fosse uma miragem... Mas era verdade. Em cima de um muro comprido havia muitas... chupetas!
A Haide ficou muito feliz mais que depressa pegou todas as chupetas e deixou um doce no lugar de cada uma e seguiu cantarolando para o céu.
Finalmente a Haide conseguiu cumprir a sua missão.
E assim todas as noites quando olharmos para o céu, se olharmos com os olhos do coração, com certeza conseguiremos encontra-la e teremos a oportunidade de contemplar uma linda estrela, a mais brilhante, a maior de todas. Uma estrela em forma de chupeta.
(História enviada por Áurea Falgeti)

quarta-feira, 16 de abril de 2008

História do Indiozinho Chuí


No meio da floresta amazônica vivia uma tribo de índios. Nesta tribo vivia um indiozinho pequenininho, mas com um nome muito grande: Chuiacanga Parapitanga Piriri Pororó. O nome era tão grande e o indiozinho tão pequeno que todos o chamavam de Chuí.
A mãe de Chuí, a Chuôa tinha que sair para cuidar da roça de mandioca e disse:
_ Chuí, você fica aqui dentro da oca e não saia, que é perigoso. E saiu para cuidar da roça.
Chuí esperou, mas estava tão chato que ele colocou a cabeça para fora da oca. Olhou para um lado, olhou para o outro e saiu correndo.
Mais a frente parou. Olhou para um lado, olhou pro outro e como não tinha ninguém, saiu passeando, no meio das árvores. E reparou que as árvores eram altas, altas, altas.
No meio das árvores tinha pássaros, voando, voando, voando.
Chuí continuou andando, até que chegou num rio caudaloso e viu um aponte de corda que balançava pra lá e pra cá. No rio estavam os jacarés, que abriam a boca para ele. Ele foi andando na ponte. Saiu da ponte e continuou o seu passeio.
Chegou a um morro de pedrinhas. Ele subiu pelo morro de pedrinhas. Acabando o morro ele continuou andando. Até que chegou à boca de uma caverna. Ele entrou na caverna. Que foi ficando escura, escura, escura. Lá dentro, de repente ele encontrou em alguma coisa. Alguma coisa grande, alguma coisa larga, alguma coisa alta.
Foi quando ele percebeu que a caverna não era escura. Era ele que estava de olhos fechados. Quando ele abriu os olhos ele viu... uma onça!
Saiu correndo. Desceu o morro das pedrinhas, Continuou correndo. Passou pela ponte de corada. Continuou correndo. Passou pelos jacarés. Continuou correndo. Pelos passarinhos. Continuou correndo. Palas árvores altas, altas, altas. Continuou correndo. Até que chegou na oca. Ele entrou e sabem quem ele encontrou esperando por ele? A mãe!
_Chuí! A mãe não falou pra você não sair da oca? É perigoso!
A mãe de Chuí, que é índia e não igual as nossa, ficou brava, mas não bateu em Chuí. Nem aquelas palmadinhas “pra educar”. Índio não faz isso. Ela conversou com ele. E Chuí nunca mais saiu da oca sem a permissão de sua mãe. Principalmente quando ela estava olhando.
(História enviada por Amauri de Oliveira)

sexta-feira, 11 de abril de 2008

FLOCOS DE CARINHO

Havia uma pequena aldeia onde o dinheiro não entrava.
Tudo o que as pessoas compravam, tudo o que era cultivado e
produzido por cada um, era trocado.
A coisa mais importante, e valiosa era a AMIZADE.

Quem nada produzia, quem não possuía coisas que pudessem ser trocadas por alimentos, ou utensílios, dava seu CARINHO.

O CARINHO era simbolizado por um floquinho de algodão.
Muitas vezes, era normal que as pessoas trocassem floquinhos sem querer nada em troca.
As pessoas davam seu CARINHO pois sabiam que receberiam
outros num outro momento ou outro dia.

Um dia, uma mulher muito má, que vivia fora da aldeia,
convenceu um pequeno garoto a não mais dar seus floquinhos.

Desta forma, ele seria a pessoa mais rica da cidade e teria o que quisesse. Iludido pelas palavras da malvada, o menino, que era uma das pessoas mais populares e queridas da
aldeia, passou a juntar CARINHOS e em pouquíssimo tempo sua casa estava repleta de floquinhos, ficando até difícil de circular dentro dela.

Daí então, quando a cidade já estava praticamente sem floquinhos, as pessoas começaram a guardar o pouco CARINHO que tinham e toda a harmonia da cidade desapareceu.

Surgiram a ganância a desconfiança, o primeiro roubo, ódio, a discórdia, as pessoas se xingaram pela primeira vez e passaram ignorar-se pelas ruas.
Como era o mais querido da cidade, o garoto foi o primeiro a sentir-se triste e sozinho, o que o fez procurar a velha para perguntar-lhe e dizer-lhe se aquilo fazia parte da riqueza que ele acumularia.

Não a encontrando mais, ele tomou uma decisão. Pegou uma grande carriola, colocou todos os seus floquinhos em cima e caminhou por toda a cidade distribuindo aleatoriamente seu CARINHO.

A todos que dava CARINHO, apenas dizia: Obrigado por receber meu carinho.
Assim, sem medo de acabar com seus floquinhos, ele distribuiu até o último CARINHO sem receber um só de volta.
Sem que tivesse tempo de sentir-se sozinho e triste novamente, alguém caminhou até ele e lhe deu CARINHO.

Um outro fez o mesmo...Mais outro... e outro... até que definitivamente a aldeia voltou ao normal.

(História enviada por Elisabete Batista)

quinta-feira, 10 de abril de 2008

A Primeira Só


(Marina Colasanti)

Era linda, era filha, era única. Filha de rei. Mas de que adiantava ser princesa se não tinha com quem brincar?Sozinha, no palácio, chorava e chorava. Não queria saber de bonecas, não queria saber de brinquedos. Queria uma amiga para gostar.

De noite o rei ouvia os soluços da filha. De que adiantava a coroa se a filha da gente chora à noite? Decidiu acabar com tanta tristeza. Chamou o vidraceiro, chamou o moldureiro. E em segredo mandou fazer o maior espelho do reino. E em silêncio mandou colocar o espelho ao pé da cama da filha que dormia.

Quando a princesa acordou, já não estava sozinha. Uma menina linda e única olhava para ela, os cabelos ainda desfeitos do sono. Rápido saltaram as duas da cama. Rápido chegaram perto e ficaram se encontrando. Uma sorriu e deu bom dia. A outra deu bom dia sorrindo.

- Engraçado – pensou uma - , a outra é canhota.

E riram as duas.Riram muito depois.

Felizes juntas, felizes iguais. A brincadeira de uma era a graça da outra. O salto de uma era o pulo da outra. E quando uma estava cansada, a outra dormia.

O rei, encantado com tanta alegria, mandou fazer brinquedos novos, que entregou à filha numa cesta. Bichos, bonecas, casinhas e uma bola de ouro. A bola no fundo da cesta. Porém tão brilhante, que foi o primeiro presente que escolheram.

Rolaram com ela no tapete, lançaram na cama atiraram para o alto. Mas quando a princesa resolveu jogá-la nas mãos da amiga, a bola estilhaçou jogo e amizade.

Uma moldura vazia, cacos de espelho no chão.

A tristeza pesou nos olhos da única filha do rei. Abaixou a cabeça para chorar. A lágrima inchou, já ia cair, quando a princesa viu o rosto que tanto amava. Não um só rosto de amiga, mas tantos rostos de tantas amigas. Não na lágrima que logo caiu mas nos cacos que cobriam o chão.

- Engraçado são canhotas – pensou.

E riram.Riram por algum tempo depois. Era diferente brincar com tantas amigas. Agora podia escolher. Um dia escolheu uma e logo se cansou. No dia seguinte preferiu outra, e esqueceu-se dela logo em seguida. Depois outra e outra, até achar que todas eram poucas. Então pegou uma, jogou contra a parede e fez duas. Cansou das duas, pisou com o sapato e fez quatro. Não achou mais graça nas quatro, quebrou com o martelo e fez oito. Irritou-se com as oito partiu com uma pedra e fez doze.

Mas duas eram menores do que uma, quatro menores do que duas, oito menores do que quatro, doze menores do que oito.

Menores cada vez menores.Tão menores que não cabiam em si, pedaços de amigas com as quais não se podia brincar. Um olho, um sorriso, um pedaço de si. Depois, nem isso, pó brilhante de amigas espalhado pelo chão.

Sozinha outra vez a filha do rei.Chorava Nem sei.

Não queria saber das bonecas, não queria saber dos brinquedos.

Saiu do palácio e foi correr no jardim para cansar a tristeza.

Correu, correu, e a tristeza continuava com ela. Correu pelo bosque, correu pelo prado. Parou à beira do lago.

No reflexo da água a amiga esperava por ela.

Mas a princesa não queria mais uma única amiga, queria tantas, queria todas, aquelas que tinha tido e as novas que encontraria. Soprou na água. A amiga encrespou-se, mas continuou sendo uma.

Então a linda filha do rei atirou-se na água de braços abertos, estilhaçando o espelho em tantos cacos, tantas amigas que foram afundando com ela, sumindo nas pequenas ondas com que o lago arrumava sua superfície.


(História enviada por João André Bonatte)

domingo, 6 de abril de 2008

História do coqueiro


Numa linda manhã, bem no alto de um morro nasceu um majestoso e imponente coqueiro.
A cada dia ele crescia e era admirado por todos, mas bem à distância. Só o coqueiro é que crescia sobre o morro, as outras plantas ficavam lá longe.
Até que um dia, ao pé do coqueiro, trazida pelo vento ou por um passarinho, uma sementinha começou a brotar e se transformou numa minúscula e frágil flor.
_ Ai, ai, oh, céus...óh...
_ Que meleca! Quem ousa perturbar o meu sossego?
Então a florzinha se dá conta que nasceu ao lado de um imenso coqueiro. Sem ter outra planta ao seu redor, se sentindo muito só, começou a puxar conversa com o coqueiro:
_ Seu Coqueiro! Seu Coqueiro! Conversa comigo, Seu Coqueiro!
_ Quem é que tem a ousadia de me incomodar?
_ Sou eu, Seu Coqueiro, a Florzinha. Conversa comigo, Seu Coqueiro, estou tão sozinha.
_ Ora, que puxa!!! Não me amole. Não vou perder meu precioso tempo com qualquer um.
_ Ah, Seu Coqueiro, conversa comigo! Você já reparou como o dia está lindo hoje?
_ Lindo? Não vejo nada de lindo além de mim.
_ Seu Coqueiro, como é a vista aí de cima? Aqui embaixo eu não vejo nada. Conta pra mim.
_ Não me amole, não quero saber de conversa!
Neste instante aparecem nuvens negras no horizonte, que vão chegando e escurecendo todo o céu.
_ Seu Coqueiro, o que tá acontecendo, Seu Coqueiro?
_ Pra mim não está acontecendo nada. Agora pra você vai acontecer uma tempestade que vai te levar daqui pra sempre! Ah! Ah! Ah!
_ Seu Coqueiro, eu to com medo, Seu Coqueiro! O que nós vamos fazer?_ Eu não vou fazer é nada, pode vir tempestade!
O temporal chegou!
E o vento mandava o coqueiro para um lado e depois para o outro lado. E a Florzinha gritava:
_ Socorro, Seu Coqueiro!
Quando de repente.... Cai o coqueiro!
A chuva cessa e a florzinha:
_Seu Coqueiro? Ué?! Ele morreu. Ele era tão bonzinho, me fazia tanta companhia, conversava tanto comigo. Agora ele ta lá no céu dos cocos. Agora ele tá em paz...
Quanto maior a altura, maior o tombo!

(História enviada por Amauri de Oliveira)

GUILHERME AUGUSTO ARAÚJO FERNANDES "MEM FOX"


Era uma vez um menino chamado Guilherme Augusto Araujo Fernandes e ele nem era tão velho assim.
Sua casa era ao lado de um asilo de velho e ele conhecia todo mundo que vivia lá.Ele gostava da Sra. Silvano que tocava piano.Ele ouvia as histórias arrepiantes que lhe contava o Sr. Cervantes.Ele brincava com o Sr. Valdemar que adorava remar.Ajudava a Sra. Mandala que andava com uma bengala. E admirava o Sr. Possante que tinha voz de gigante.
Mas a pessoa que ele mais gostava era a Sra. Antonia Maria Dinis Cordeiro, porque ela tambem tinha quatro nomes, como ele.
Ele a chamava de Dna. Antonia e contava-lhe todos os seus segredos.
Um dia, Guilherme Augusto escutou sua mãe e seu pai conversando sobre Dna. Antonia.
- Coitada da velhinha - disse sua mãe.
- Por que ela é coitada? - perguntou Guilherme Augusto.
- Porque ela perdeu a memória - respondeu seu pai.
- Tembém, não é para menos - disse sua mãe.
- Afinal, ela já tem noventa e seis anos.
- O que é uma memória? - perguntou Guilherme Augusto. Ele vivia fazendo perguntas.
- É algo de que você se lembre - respondeu o pai.
Mas Guilherme Augusto queria saber mais; então, ele procurou a Sra. Silvano que tocava piano.
- O que é uma memória? - perguntou.
- Algo quente, meu filho, algo quente.
Ele procurou o Sr. Cervantes que lhe contava histórias arrepiantes.
- O que é uma memória? - perguntou.
- Algo bem antigo, meu caro, algo bem antigo.
Ele procurou o Sr. Valdemar que adorava remar.
- O que é uma memória? - perguntou.
- Algo que faz chorar, meu menino, algo que faz chorar.
Ele procurou a Sra. Mandala que andava com uma bengala.
- O que é uma memória? - perguntou.
- Algo que o faz rir, meu querido, algo que o faz rir.
Ele procurou o Sr. Possante que tinha voz de gigante.
- O que é uma memória? - perguntou.
- Algo que vale ouro, meu jovem, algo que vale ouro.
Então, Guilherme Augusto voltou para casa, para procurar memórias para Dna. Antonia, ja que ela havia perdido as suas.
Ele procurou uma antiga caixa de sapato cheia de conchas, guardadas há muito tempo, e colocou-as com cuidado numa cesta.Ele achou uma marionete, que sempre fizera todo mundo rir, e colocou-a na cesta também.
Ele lembrou-se, com tristeza, da medalha que seu avô lhe tinha dado e colocou-a delicadamente ao lado das conchas.
Depois achou sua bola de futebol, que para ele valia ouro; por fim, entrou no galinheiro e pegou um ovinho fresquinho, ainda quente, debaixo da galinha.
Aí, Guilherme Augusto foi visitar Dna. Antonia e deu à ela, uma por uma, cada coisa de sua cesta.
"Que criança adorável que me traz essas coisas maravilhosas", pensou Dna. Antonia.
E então ela começou a se lembrar.
Ela segurou o ovo ainda quente e contou a Guilherme Augusto sobre um ovinho azul, todo pintado, que havia encontrado uma vez, dentro do ninho, no jardim da casa de sua tia.
Ela encostou uma das conchas no ouvido e lembrou da vez que tinha ido à praia de bonde, há muito tempo, e como sentira calor com suas botas de amarrar.
Ela pegou a medalha e lembrou com tristeza, de seu irmão mais velho, que havia ido para a guerra e que nunca voltou.
Ela sorriu para a marionete e lembrou da vez em que mostrara uma para sua irmãzinha, que rira às gargalhadas, com a boca cheia de minguau.
Ela jogou a bola de futebol para Guilherme Augusto e lembrou do dia em que se conheceram e de todos os segredos que haviam compartilhado.
E os dois sorriram e sorriram, pois toda a memória perdida de Dna. Antonia tinha sido encontrada, por um menino que nem era tão velho assim.

(História enviada por Marcia Balzani)

segunda-feira, 31 de março de 2008

Pão e ervilhas

Nasrudin estava sobrevivendo numa dieta miserável de pão e ervilhas.
Seu vizinho, que também se dizia um homem sábio, morava num palacete e
deliciava-se com refeições suntuosas oferecidas pelo próprio
imperador.
Um dia o vizinho interpelou Nasrudin;
- Se você ao menos aprendesse a bajular o imperador e ser subserviente
como eu não precisaria viver de pão e ervilhas
- E se você ao menos aprendesse a viver de pão e ervilhas como eu não
precisaria bajular e ser subserviente ao imperador – respondeu
Nasrudin.

Sufismo
Histórias da Alma, Histórias do Coração
Christina Feldman e Jack Kornfield
Editora Pioneira

(História enviada por Marília Tresca)

segunda-feira, 24 de março de 2008

O pássaro trinador de flores

Conto iraniano reproduzido por Marie-Louise von Franz

Era uma vez um Rei que tinha três filhos: Malik Mhuhammad, Malik Dschamschid e Malik Ibrahim. Ibrahim era o mais moço e seu pai o amava, tal como o filho amava o pai. Tendo o Rei adoecido, os médicos de todo o império não conseguiram descobrir qual o remédio para sua doença. Mas aí um certo doutor declarou que o remédio existia, desde que se conseguisse encontrá-lo: pois havia no mar um peixe verde que trazia um anel de ouro na mandíbula, e se alguém conseguisse pescá-lo, abrindo-lhe a barriga e colocando um pedacinho do coração de tal peixe sobre o coração do Sultão, este certamente se restabeleceria. Os três filhos ofereceram dinheiro a vários mergulhadores e pescadores para que os mesmos procurassem o tal peixe, e afinal, após alguns dias, estes conseguiram pescá-lo e o trouxeram a Malik Ibrahim. Tomando-o nas mãos, o moço ficou tremendamente impressionado com a grande beleza do peixe e, examinando-o, verificou que ele trazia inscrito na testa: “Alá é o único Deus, Maomé é seu profeta e Ali é seu sucessor”. Bem, é esse o credo Shiita maometano. Ora, ao ler aquilo, Malik Ibrahim sentiu-se profundamente comovido e exclamou: “Mesmo que meu pai possa ser curado por este peixe, não posso matá-lo”, e lançou o peixe de volta ao mar.
Enquanto isso, todos aguardavam que ele trouxesse o peixe e, abrindo-lhe a barriga, curasse o pai, até que descobriram que o rapaz devolvera o peixe ao mar, o que os fez morder os dedos de espanto, sem conseguir entender o fato. Quando disseram isso ao Rei, este ficou furioso e falou: “Se na verdade Malik Ibrahim está esperando que eu morra para se apoderar do trono, eu o deserdarei".
Daí em diante o Rei foi piorando cada vez mais, não tendo mais paz nem de dia nem de noite; mais uma vez os médicos se reuniram em torno de seu leito e declararam: “Ainda existe um remédio que conhecemos, que é o Pássaro Trinador de Flores. Toda vez que ele gorjeia, cai-lhe do bico uma linda flor e, se alguém conseguir aprisioná-lo e colocar uma dessas flores sobre o coração do Rei, ele ficará curado de sua enfermidade”.
O Rei beijou seus outros dois filhos, dizendo-lhes: “Agora, minha única esperança é que vocês encontrem o Pássaro Trinador de Flores”. Então os dois filhos montaram seus cavalos e partiram, sendo seguidos por Ibrahim, pouco tempo depois. Os irmãos perguntaram o que estava fazendo ele ali, ao que Ibrahim respondeu que também ele ia em busca do pássaro, de modo que resolveram prosseguir juntos. Chegando a uma encruzilhada onde havia uma árvore e uma fonte, desceram dos cavalos para descansar um pouco. Tendo os seus irmãos adormecido, Ibrahim foi dar um pequeno passeio, e de repente avistou uma tábula de pedra onde estava escrito: “Aqueles que chegarem a esta encruzilhada precisam saber que a estrada da direita não apresenta perigo e é agradável, mas a da esquerda é cheia de perigos e nenhum viajante que por ela seguir poderá ter esperança de voltar”.
Os dois irmãos, naturalmente, tomaram o caminho da direita, enquanto a Ibrahim coube o da esquerda. Mas havia na tábula uma outra inscrição que dizia que quem tomasse o caminho da esquerda deveria levá-la consigo. E assim fez Ibrahim. Primeiramente, foi dar a um castelo cercado de um lindo jardim onde encontrou uma bela jovem que o flertou; ele se apaixonou por ela e esta já sabia o seu nome. De repente porém Ibrahim se lembrou da tábula que trouxera consigo e, retirando-se para um recanto do jardim, viu que nela estava escrito: “Se tomares o caminho da esquerda, encontrarás belíssima e sedutora jovem, mas não te deixes atrair por suas tramas pois ele é uma astuta feiticeira que deseja matar-te. Ela vai te desafiar para uma luta e, quando isso ocorrer, tens de arrancar-lhe a blusa e então verás em seu ombro um sinal negro. Toma tua faca e enterra-a com toda força nessa mancha negra, tratando porém de não errares o alvo, pois se isso acontecer tu serás transformado em pedra negra”.
Aconteceu tudo como fora previsto e Ibrahim conseguiu mergulhar sua adaga na mancha negra da feiticeira. Então surgiu um furacão, com raios e trovões, tendo Ibrahim desmaiado de terror. Ao recobrar os sentidos viu a seu lado o cadáver de uma terrível e decrépita velha; quanto ao jardim e ao palácio, tudo desaparecera e ele se achava num deserto.
Então Ibrahim prosseguiu caminho e logo se achou num jardim muito semelhante ao primeiro; no centro havia um lago e nele vagava um barco. Nadou até o barco e ali encontrou dez homens, dos quais apenas um manifestava sinais de vida. Malik Ibrahim alimentou-o fazendo-o comer pedacinhos de maçã, pois o homem estava demasiado fraco e faminto para poder falar. Após se sentir mais reconfortado, o homem contou a Ibrahim que o barco fora colhido por um redemoinho e que, diariamente, ao meio-dia, surgia das profundezas uma grande mão que arrebatava um deles para dentro do lago, quer estivesse vivo ou morto, e que antes havia vinte homens a bordo, dos quais dez haviam sido agarrados e os demais tinham morrido de fome. Ibrahim recorreu novamente à tábula, na qual leu: “Se chegares a este barco, não te deixes distrair por qualquer coisa que vejas, ou que aconteça, ou que a dona da mão te relate. Essa mão que emerge do fundo das águas pertence à irmã da primeira feiticeira. Tens que apertá-la com toda a tua força, que é para romperes a maldição. Caso sejas superado na luta, perderás para sempre tua liberdade”.
Aí surgiu da água uma linda mão enquanto uma voz o saudava dizendo: “Apertemos as mãos, em sinal de amizade!” Ao que Ibrahim respondeu: “Sim, com todo prazer”, e estendeu-lhe a mão; reparando porém que a outra o ia puxando cada vez mais para a água, ele se colocou sob a proteção de Deus e, com quantas forças tinha, apertou tanto a tal mão, que a esmagou; novamente desabou uma tempestade e ele viu a seu lado o cadáver da feiticeira, achando-se perdido novamente no deserto.
Pôs-se então a caminho e foi dar a um lugar onde havia uma árvore alta e uma fonte, com muitos macacos em torno da árvore. Ele não sabia como explicar a presença de tantos macacos, mas estes o cercavam, olhando-o com olhos tristes. Ibrahim recorreu à tábula e leu: “Agora que mataste a feiticeira hás de chegar a uma árvore cheia de macacos e a uma fonte. Segue o veio da água e irás dar a um enorme edifício, onde encontrarás uma jovem; mas também é feiticeira e tentará te cativar e te iludir. Desta vez, terás que atirar-lhe à testa esta tábula, para que lhe quebres a cabeça e rompas o encantamento”. Tudo aconteceu como ali estava escrito e, logo que atirou a pedra à cabeça da feiticeira, todos os macacos viraram lindas donzelas. A líder das moças era uma Fada-princesa, que fora à caça de uma gazela com suas damas. Mas a gazela que ela caçava era a própria feiticeira e, mal as jovens entraram na floresta, a gazela começou a correr em círculos transformando-se numa mulher horrorosa e, no mesmo instante, transformou as jovens em macacos. Agora que Ibrahim matara a bruxa-gazela, as moças estavam libertas do encanto.
Ibrahim levou a Fada-princesa de volta à casa de seu pai e pediu-a em casamento, porém o Rei confessou a Ibrahim que não tinha só essa filha, Maiúne, que ele desencantara, mas também um filho que tentara dar combate às feiticeiras e fora morto, achando-se sepultado num cemitério próximo. Todas as noites, porém, chegavam as feiticeiras e, como a bruxa de Endor, da qual fala a Bíblia, retiravam da tumba o corpo do filho do Rei, ainda envolto nos restos da sua mortalha; e a cada manhã o cadáver tinha que ser novamente sepultado até que, na noite seguinte, tudo se repetisse.
Por isso Ibrahim se colocou, à noite, perto do túmulo e, tendo sido outra vez instruído do que lhe competia fazer, tomou uma lança e, quando duas feiticeiras apareceram para reiniciar suas artimanhas, em um só golpe ele as degolou, tendo-se desencadeado, no mesmo instante, uma terrível tempestade. Quando, porém, tudo se acalmou, o Príncipe morto ressuscitou e declarou que, por ter sido libertado por Ibrahim, fazia-se seu escravo para sempre.
Depois disso Malik Ibrahim se casou com a Fada-princesa, embora continuasse determinado a partir em busca do Pássaro Trinador de Flores. Alguém lhe disse que o pássaro se encontrava numa grande montanha rodeada por milhares de demoniozinhos e que ninguém podia por ali passar. Mas Ibrahim simplesmente se dirigiu aos mil demoniozinhos e, quando estes o atacaram, destemidamente os fez estacar, o que os deixou curiosos por saber o que é que aquele simpático e ingênuo rapaz pretendia ali. Em lugar de o matarem imediatamente, deram-lhe a chance de dizer porque viera. Ibrahim então confessou que desejava o Pássaro Trinador de Flores. Abertamente contou-lhes toda a verdade e os demoniozinhos então disseram que o pássaro se achava ali na montanha e que pertencia a Tarfe Banu, filha do Rei; acrescentaram que eles não lhe podiam trazer o pássaro e que Ibrahim teria que roubá-lo sozinho; eles não se importariam. Chegaram mesmo a conduzir Ibrahim ao castelo encantado, onde, num dos aposentos, encontrou Tarfe Banu adormecida sobre um coxim todo ornamentado com pedras preciosas. Ela era tão bela que não existe linguagem humana capaz de descrever-lhe a beleza. À sua cabeceira se achava uma linda gaiola, dentro da qual estava o Pássaro Trinador de Flores, e a cada trinada que este emitia caíam-lhe do bico flores suavemente perfumadas. Ibrahim com grande rapidez se apoderou da gaiola e fugiu, pedindo aos demoniozinhos que o levassem para casa. Quando já se achava próximo do castelo onde morava, pendurou a gaiola numa árvore e caiu no sono. Então, como se pode imaginar, os irmãos apareceram e roubaram o pássaro, levando-o para o Rei, a quem disseram terem sido eles mesmos que o haviam encontrado. Mas o pássaro não cantava!
Ibrahim consegue chegar à corte e, ao vê-lo, o pássaro logo se põe a cantar e as flores a lhe tombarem do bico, de modo que o Rei logo fica curado. Eis, porém, que chega ali um exército. Ao redor do palácio surge grande número de tendas e os irmãos, horrorizados, descobrem que Tarfe Banu viera em busca de quem lhe roubara o Pássaro. O ladrão, disse ela, teria que comparecer à sua presença, pois não falaria com qualquer outra pessoa. Todos empalideceram, mas Ibrahim se declarou disposto a ir. Vestiu-se principescamente e compareceu diante da Princesa, que o recebeu muito afavelmente, declarando-lhe ter feito um juramento de se casar com ele porque, a despeito da perseguição das feiticeiras, conseguira encontrá-la, bem como ao pássaro, e que por isso era ele o único que merecia se tornar seu esposo.
Ibrahim se casou, portanto, com Tarfe Banu, permitindo que mais tarde Maiúne viesse se reunir a ele e todos viveram felizes até o fim de suas vidas, como manda o destino.


(História enviada por Sueli Nascimento)