quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Chuva e sol


Adelina Lopes Vieira

Junta ao pendor do abismo e suster-se sozinha;
quase a tombar no mal, lutar vencendo o mal,
é difícil, é belo! Eu vi exemplo igual
na ingênua candidez de linda criancinha.

Disse a mamãe, um dia, à loura Georgeana:

— Se até anoitecer, eu não te ouvir chorar,
nem dar gritos, prometo, amor, ir-te comprar
uma nenê gentil, d'olhos de porcelana.

Apenas isto ouviu, a bela pequenita

dança e salta a cantar, com tal sofreguidão,
que entontecendo, cai, ao comprido, no chão.
Esqueceu-lhe a promessa. Ei-la que chora e grita.

— Prantos? adeus boneca. Ouvindo esta ameaça,

ergue-se Georgeana e diz muito ligeira,
mudando o choro em riso, e com imensa graça.
— Chorei... por brincadeira...