segunda-feira, 24 de julho de 2017

A Raposa e o Cancão




Passara a manhã chovendo, e o cancão todo molhado, sem poder voar, estava tristemente pousado à beira da estrada. Veio a raposa e levou-o na boca para os filhinhos. Mas o caminho era longo e o sol ardente. Mestre cancão enxugou e começou a cuidar do meio de escapar à raposa. Passam perto de um povoado. Uns meninos que brincavam começam a dirigir desaforos à astuciosa caçadora. Vai o cancão e fala:
        __ Comadre raposa, isso é um desaforo! Eu se fosse você não agüentava! Passava uma decompostura!...
        A raposa abre a boca num impropério terrível contra a criançada. O cancão voa, pousa triunfalmente num galho e ajuda a vaiá-la...


Recolhido no Ceará, por Gustavo Barroso (1912)
CASCUDO, Luís da Câmara.  Contos tradicionais do Brasil.
Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo, EDUSP, 1986.  p. 183.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Que verdade!

     

 Se fosse ponte a prancha
               banda o bando
               rede ao ramo
               festa a feira
               paz a pomba,
Que verdade seria
o sonho de Maria!

                                     (Maria Dinorah)


(Panela no fogo,barriga vazia, Porto Alegre, L&PM, 1986).

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Um pouquinho de Céu


Gostaria de comprar um perfume,
Nada chique, algo simples —
Pensei numa fragrância…
Do cheirinho de chuva caindo nas ruas;
Ou talvez o cheirinho
De um bebê saído do banho;
Ou o aroma forte e dominante
De folhinhas de hortelã amassadas;
Sabe aquele cheiro delicioso
Do pão assado em casa?
Ou a fragrância esplendorosa
De lençóis limpos na cama?
E que tal o cheirinho de um bife
Na chapa e acebolado,
Ou o aroma delicado
Das flores na Primavera.
Talvez o aroma do mar
Num dia ventoso de inverno
Ou a fragrância mais sedutora
De uma chuva caindo no mato —
Eu gostaria de comprar um perfume
Qualquer fragrância simples serve —
Só um pouquinho do Céu,
Composto pelos elementos da terra.


—Helen Marshall