segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A Pulseira da Rainha



Essa história vem de muito longe. De uma aldeia lá pros lados da África. Lá havia o rei Quitamba, que vivia numa alegria danada. Todo dia ele dava festas na aldeia. Aquela alegria foi durando, durando, durando... Até o dia em que a sua mulher, a rainha, morreu. No dia em que isso aconteceu, o rei caiu numa tristeza danada. Foi uma tristeza tão grande que ele baixou um luto lá na aldeia. A partir daquele dia, ninguém poderia cantar, correr, moer farinha, casar, nada! Tinha que ficar todo mundo caladinho. O tempo foi passando e a aldeia naquele luto pesado; num silêncio total. Porém, um dia os homens da aldeia resolveram se reunir para conversar com o rei e tentar assuntar; inventar alguma coisa para acabar com a tristeza.

Foi quando o rei Quitamba falou:

- Eu só acabo com esse luto se vocês ressuscitarem a rainha!

Os homens abaixaram a cabeça pensando em como ressuscitar uma morta. Foi quando tiveram uma idéia. Perto da aldeia havia um feiticeiro. Eles mandaram presentes para o feiticeiro e o convidaram para vir até a aldeia. Mataram uma vaca, fizeram uma comida muito boa e deram para o convidado. Quando esse estava bem alegre, eles lhe contaram toda a história. Falaram que precisavam da ajuda do feiticeiro para ressuscitar a rainha.

O feiticeiro disse que ajudaria aqueles homens. Foi ao mato, colheu uma porção de ervas, entregou para cada um e disse:

- Vocês vão levar essa raiz, dar para o rei e falar que todos os dias ele terá que tomar banho com ela.

Após falar isso, o feiticeiro disse que acenderia uma fogueira e que no local do fogo, era para os homens cavarem uma cova. Assim foi feito. O feiticeiro chamou sua mulher e disse:

- Agora, eu vou entrar com meu filho nessa cova. Depois que eu entrar você tampa e vai regando com água todos os dias. Passou a mão no menino e foi entrando para dentro da cova. A mulher fechou o buraco. Eles andaram, andaram e chegaram numa aldeia. Era a aldeia de Calunga. Nisso eles viram a rainha, que estava sentada. Ela ficou assustada e perguntou:

De onde vocês vieram? O que estão fazendo aqui?

O feiticeiro, então, contou tudo o que se passara na aldeia.

A rainha, apontando para um lado disse:

-Você está vendo aquele ali? Ele é o Calunga. É ele que toma conta de nós aqui. Depois que se entra aqui ninguém mais sai!

Em seguida, a rainha apontou para o outro lado e disse:

- Agora você esta vendo aquele ali?

O feiticeiro olhou, olhou e reconheceu, dizendo:

- Aquele é o rei Quitamba!

A rainha explicou que aquele não era o rei, mas sim sua imagem, pois esse não viveria por muito tempo, indo, em alguns anos, ficar com ela naquele lugar.

A rainha disse ao feiticeiro:

- Você volta para o reino, conta ao rei Quitamba toda essa história.

E para certificar o rei de que o feiticeiro estava falando a verdade, a rainha lhe entregou uma pulseira com a qual havia sido enterrada.

Eles se despediram e o feiticeiro foi embora levando a pulseira.

Do lado de fora, no mundo dos vivos, a mulher do feiticeiro passou dias a regar a cova. Foi quando ela viu a terra rachando e a cabeça do seu marido e seu filho aparecerem em meio à terra. Ela puxou os dois para fora.

No outro dia, o feiticeiro reuniu novamente os homens, entregou a pulseira da rainha e mandou que eles a levassem ao rei. Assim foi feito. O rei, ao ouvir toda aquela história, ficou um pouco desconfiado. Mas, quando viu a pulseira constatou que era tudo verdade. A partir daquele dia a tristeza foi acabando porque o rei tinha agora a certeza de que um dia iria reencontrar sua rainha. Novas festas voltaram a acontecer e a alegria tomou conta do reino novamente. Porém, chegou o dia em que o rei teve que ir para a terra de Calunga. E dizem que ele está lá até hoje, alegre, ao lado da sua rainha!

(História gravada por Ana Paulo Oliveira, contada por Josiley Souza, em Belo Horizonte)

*O título dessa história não corresponde ao verdadeiro



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