sábado, 22 de março de 2008

Julinho, o sapo



Era uma vez um sapo que vivia cantando dia e noite para o sol e para a lua na beira de uma lagoa.
Seu nome era Julinho.
Ele vivia muito triste porque não tinha nenhuma namorada.
Sabe como é, né?
Todo sapo que se preza espera um dia encontrar uma princesa que lhe de um beijo para que ele vire um lindo príncipe. Ai eles se casam, tem muitos filhos e vão viver num palácio distante.
Certa noite, a coruja que é uma ave noturna muito sábia, disse ao sapo Julinho:
- Julinho, meu filho. Você fica ai cantando com essa viola velha essas músicas antiquadas, samba-canção, boleros, valsas... Desse jeito não vai aparecer princesa nenhuma. As princesas de hoje em dia não são como as de antigamente. Você deveria é cantar rock.
E deu uma guitarra elétrica novinha em folha, duas caixas acústicas enormes, um par de óculos escuros e uma roupa de couro de roqueiro para o sapo.
Sapo Julinho foi até uma banca de jornal, comprou algumas revistinhas para aprender a cantar, ensaiou e foi para a beira da lagoa cantar os rocks mais chegados do momento.
Depois de alguns dias a lagoa que vivia numa paz de fazer inveja virou um inferno. Os bichinhos que ali moravam e mesmo os animaizinhos da floresta que havia ao lado não agüentavam mais aquela barulheira e torciam para que uma princesa aparecesse por ali e levasse Julinho consigo.
Não é que deu certo?
Numa tarde de verão apareceu por ali uma princesa japonesa que adorava sapo cantador de Rock. Ainda mais se ela, dando um beijo nele, o transformasse num príncipe maravilhoso. Alto, forte, moreno, de olhos verdes, se casassem e fossem felizes para sempre.
Ela foi se aproximando. Quando viu Julinho, apanhou-o no chão e deu um beijo estalado naquela cara feliz. Mas Julinho continuou o mesmo sapo de sempre. A princesa jogou-o com toda a força na lagoa com sua roupa, óculos escuros, guitarra e caixas acústicas e foi pisando duro para seu palácio perguntando indignada:
- Quem é que inventou essa história que quando princesa beija sapo ele vira príncipe? – Trancou-se no quarto e não quis conversa com ninguém.
Acontece que o sapo Julinho, tendo sido beijado pela princesinha ficou todo apaixonado e dizia consigo mesmo:
- Puxa. Nunca ninguém me atirou na lagoa assim com tanto charme.
Retirou tudo da lagoa e colocou para secar. Quando tudo estava sequinho, ele apanhou toda a tralha e foi até o palácio da princesa que estava na sacada. Colocou-se na direção da sacada para que ela o visse, ligou a guitarra na primeira árvore que viu e começou a cantar rocks.
No dia seguinte a princesa foi visitar uma princesinha, sua coleguinha, num reino vizinho e lá se foi Julinho atrás dela. Ligou a guitarra num arbusto e cantou muitos rocks para a princesa.
No outro dia a princesa foi passear no bosque e lá se foi o sapo Julinho cantar para a sua amada.
A princesa parou um pouco e pensou:
- Príncipe de verdade não aparece por aqui. Eu beijo sapo e ele não vira príncipe. Quer saber de uma coisa? Vou casa com esse sapo.
Falou com Julinho e enquanto ela foi convidar a todos da corte ele foi até a lagoa e a floresta fazer o convite a todos os beijinhos.
Chegou o dia do casório. Os convidados: todo o pessoal da corte, os bichinhos e bigatos da lagoa e os animaizinhos da floresta estavam no palácio na expectativa da cerimônia.
Julinho estava de cartola e fraque com uma florzinha na lapela e a princesinha com um longo branco de seda japonesa, trazia um arranjo de flores nas mãos e outro na cabeça que prendia um veuzinho que cobria seu rosto.
A cerimônia foi realizada e então Julinho, agora marido, aproximou-se da esposa, levantou o véu e deu-lhe um beijo apaixonado.
Foi aí que aconteceu!
A princesinha virou uma sapinha japonesa muito simpática e os dois foram morar num sobradinho na beira da lagoa.
Eles não comem insetos e sim bolinho de arroz com choio, que é um delicioso molho japonês que ela da na "boquinha" dele com aqueles dois pauzinhos.
Agora estão muito empenhados em formar uma banda de rock composta por vocais e instrumentais formados, além deles dois, pelos trezentos e setenta e cinco filhotinhos que eles tiveram.


Flávia Muniz - Editora Moderna

(História enviada por Carlos Sereno)

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