Conta uma velha lenda que quando os três reis Magos – Gaspar, Melquior e Baltazar – se dirigiram à Belém e chegaram ao estábulo onde nascera o menino-Deus, depositaram seus presentes: ouro, incenso e mirra, diante do menino e de sua mãe, mas a criança não sorriu – ele não percebeu o esplendor do ouro e nem sentiu o cheiro da mirra e quando Maria ascendeu o incenso, a fumaça fez o neném tossir.
Os três Magos, depois de reverenciarem o pequenino, se despediram meio desapontados.
Assim que seus camelos desapareceram atrás das montanhas, chegou à Belém, um quarto rei Mago.
Sua pátria era um país banhado pelo Golfo Pérsico. Quando ele viu a estrela que anunciava o nascimento do Deus que viria redimir a humanidade, sentiu que tinha de procurar o lugar sobre o qual ela brilhava. Aprontou-se para ir reverenciar o menino-Deus e levou para presenteá-lo o que tinha de mais precioso: três grandes pérolas brancas, maiores que um ovo de pomba. Viajou muitos dias e ficou sabendo dos outros três reis e de seus presentes. Mas ...suas mãos estavam vazias quando descobriu o lugar anunciado pela estrela – ele não tinha mais as pérolas!...
Ao chegar ao estábulo, abriu as portas com cuidado e viu o menino Jesus sobre os joelhos de sua mãe. Ela o embalava suavemente cantando uma cantiga de ninar.
Lentamente o Rei entrou e se atirou aos pés do Menino e de sua mãe e, hesitante começou a falar:
“Menino-Santo, eu vim lhe render homenagens e estou sabendo que aqui já estiveram três reis trazendo-Lhe ricas oferendas. Eu também tinha um presente para lhe dar: três pérolas preciosas, mas... não as tenho mais! Acontece que eu tive de pernoitar em uma hospedaria de beira de estrada e ali encontrei um velho tremendo de febre, estendido sobre um banco. Ninguém sabia quem era e ele não trazia dinheiro algum, com toda certeza morreria abandonado. Eu tive pena dele, peguei uma das pérolas e dei ao hospedeiro para providenciar um médico e, se o velho morresse, que tivesse garantido um túmulo em terra abençoada.
Na manhã seguinte, eu parti. A estrada seguia por um vale deserto, cheio de enormes rochedos. Subitamente eu ouvi gritos vindos de um bosque. Procurei ver o que estava acontecendo e deparei-me com soldados subjugando uma jovem mulher e se preparando para serviciá-la. Eram muitos e eu não teria condições de lutar contra eles. Oh! Divina-criança, perdoa-me mais uma vez pois eu peguei outra pérola e paguei a liberdade daquela jovem. Ela me agradeceu e fugiu para as montanhas.
Eu agora só tinha uma pérola, mas ao menos uma eu queria lhe trazer!
Já estava bem próximo de Belém, mas ao passar por uma pequena vila, ouvi muito choro e gritos – eram mães de pequeninos que tinham sido mortos por soldados em obediência às ordens de Herodes”: “matem todos os meninos de até dois anos!! Eu vi um soldado pronto a cortar a cabeça de um menininho que chorava muito, sua mãe gritava dolorosamente – ah! Menino-Deus, perdoa-me, mas eu peguei a terceira pérola e a dei ao soldado para que ele devolvesse a criança à mãe.
Ah! meu Santinho! É por isso que venho de mãos vazias. Perdão! Perdão!
O silêncio reinava no estábulo quando o rei concluiu sua confissão. Durante alguns instantes ele permaneceu inclinado, com a testa no chão e finalmente quando levantou os olhos viu S.José se aproximando e Maria olhando o filho que parecia dormir.
Não! O menino Jesus não dormia. Lentamente ele se virou estendendo suas mãozinhas pra as mãos vazias do rei... e o menino Jesus sorria.
Fonte: Joannes Joersen - Os Mais belos Contos de Natal - Editora Vozes. Adaptado por Daura Guimarães.
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