quinta-feira, 3 de março de 2022

Chuva e o Fogo

 


          

Contam os antigos que, num tempo distante e em terras mais distantes ainda, existia no "Vale do Fogo Ardente", um jovem foguinho conhecido por FOGARÉU. E, ao sul desse Vale, existia ali a "Terra da Garoa" onde vivia uma Chuvinha linda, linda! Todas as tardes, Fogaréu observava do alto de uma encosta rochosa a linda Chuvinha brincando lá longe, lançando suas águas de encontro à mata, dando assim, com os raios do sol, a ilusão de uma linda cachoeira de diamantes. Fogaréu se encantava com aquela cena e a cada dia, seu coração ardia não de fogo, mas de paixão. Do outro lado, Chuvinha também se derretia de paixão, olhando Fogaréu com suas chamas vermelhas balançando ao vento.

 

Certa vez, Fogaréu resolveu declarar sua paixão por Chuvinha à sua amiga Águia que também, todas as tardes, sobrevoava lá do alto, o Vale do Fogo Ardente. Muito comovida, a amiga Águia pensou em promover um encontro entre Fogaréu e Chuvinha. Em meio a tanta alegria, Fogaréu de repente se abateu, porque não sabia como isso poderia acontecer, já que no Vale do Fogo Ardente nunca podia chover e na Terra da Garoa Fogaréu não podia entrar. A amiga Águia pensou, voou, pensou e num bater de asas, EUREKA!!! Muito animada, lá de cima a amiga Águia disse a Fogaréu:

 - Fogaréu?! Vamos falar com a Mãe Natureza e promover esse encontro ali na Floresta que divide as duas terras. Vamos realizar esse encontro na terra onde tudo pode acontecer, na "Terra do Faz de Conta". Sem pestanejar, Fogaréu adorou a idéia e a amiga Águia mais que depressa voou até a Terra do Faz de Conta para conversar com a Mãe Natureza sobre o encontro.

 Ao receber o pedido de Fogaréu, trazido por D. Águia, Mãe Natureza ficou muito preocupada porque temia pela segurança dos animais da Terra do Faz de Conta, temendo ainda um incêndio provocado por Fogaréu. O Papagaio, o bichinho mais curioso e fofoqueiro da floresta, ouvindo tudo atrás de uma bananeira, não perdeu tempo e espalhou a notícia:

 - Purutaco, tataco, FOGARÉU e CHUVINHA vão se encontrar aqui na Terra do Faz de Conta. Os animais alvoroçados foram diretamente ao encontro da Mãe Natureza para saber sobre a notícia que se espalhara. A grande dúvida, ou melhor, o grande medo era onde, dentro da Terra do Faz de Conta, esse encontro poderia acontecer. Fala daqui, reclama dali, quando o Dom Calango, deu um grito dizendo:

 - Silênnnnciooooooo!!!! Eu sei onde Fogaréu e Chuvinha podem se encontrar. Só tem um lugar dentro da Terra do Faz de Conta que não oferecerá muito perigo e esse lugar está bem no centro da Floresta. É lá nas rochas dos calangos, cobras e lagartos.

 A Mãe Natureza, ainda muito receosa mas, com seu grande coração de mãe acatou a idéia e até marcou a data do encontro: 12 de junho, em comemoração ao dia de todos os animais apaixonados. Faltando apenas três dias para o encontro, todos os animais já estavam sabendo pois, o Elefante com sua tromba, anunciava por toda a mata como se fosse um carro de som. O macaco pulando de galho em galho, aproveitava a oportunidade para vender ingressos dos melhores lugares em cima das copas das árvores. A hiena, essa só sabia rir e dizer a todos que esse encontro não ia acabar bem mas que mesmo assim, ia estar lá para presenciar esse desfecho. O bicho Preguiça, com medo de perder esse espetáculo amoroso, comprou um ingresso do macaco e tratou logo de já ir andando, com toda sua paciência, para chegar a tempo do grande espetáculo. Um bando de andorinhas, a convite de seus primos pardais, veio de muito longe, viajando milhas só para assistirem a cerimônia amorosa. O Rei Leão rapidinho procurou D. Aranha, costureira de sucesso por toda a região, pedindo a mesma que fizesse uma linda túnica real com suas teias finas e reluzentes como ouro. Enfim, todos os animais se manifestavam ansiosos e felizes com o encontro de Fogaréu e Chuvinha.

 E por falar nos dois, Fogaréu e Chuvinha, muito emocionados também se preparavam para o encontro. Ele, o Fogaréu tratou logo de se esticar sob o sol e dar uma queimadinha, para manter o bronzeado. Ela, a Chuvinha, preferiu tomar um banho de Chuva de Rosas com ervas silvestres. Ah! A amiga Águia, essa fora convidada pelo casal de namorados para fazer o papel de mestre de cerimônia da nova união. Tudo pronto, público presente no grande palco do evento, D. Águia abre o espetáculo convidando a Orquestra Filarmônica da Grande Floresta, composta pelos tenores Sabiá e D. Cigarra e pelos sopranos Bem-te-vi e D. Sariema, além dos demais músicos, como D. Coruja e Sr. Raposão, tudo isto sob a regência do Maestro Galo de Viena para, assim tocarem "Danúbio Azul" durante a entrada dos namorados. Logo após a entrada de Fogaréu e Chuvinha, chega a hora de ambos se apresentarem um para o outro e para toda a bicharada. Fogaréu, em meio a grande emoção assim exclamou:

 

- Querida Chuvinha, queria poder te esquentar em meus braços mas, como o Destino assim não me permite, saiba que apenas uma de suas gotas que cair sobre meu coração, servirá como bálsamo para transformar essa paixão ardente em Amor escaldante.

 

Todos os animais se levantaram para aplaudir Fogaréu. A mamãe Ursa, mal se continha de tanto chorar. O silêncio mais uma vez tomou conta da Terra do Faz de Conta. Era a vez de todos ouvirem Chuvinha e, foi dessa forma que ela falou:

 - Amado Fogaréu, há tempos em que derramo gotas lacrimejantes de paixão por você. Não me sentiria derrotada se para ficar contigo tivesse que secar-me toda, acabando com toda minha água, pois, o meu Amor por você mergulha cada dia mais fundo dentro das águas de minha alma. Te amo!!! Mais choro, mais emoção.

 Os animais pulavam sobre os galhos das árvores, fazendo com que estas derramassem suas folhas sobre o os namorados. De repente, o bicho Preguiça, que ainda subia na árvore, chega até seu galho que, naquele momento, estava lotado de animais. Arreda daqui, espreme de lá. Epa, que barulho é esse, gritou o chimpanzé! Cleck, crack, esse galho vai quebrar retrucou o Esquilo. Os bichos apavorados com a situação se desesperaram e sem que esses pudessem descer, a girafa gritou: Madeeeiiiiraaaaaa!!!! O galho imenso, daquela árvore maior ainda, veio caindo, caindo e para infelicidade geral, esse caiu bem em cima de Fogaréu que, sem querer, espalhou suas chamas pelo galho, que também as fez espalhar para outros galhos de outras árvores, começando assim um incêndio na Terra do Faz de Conta. Os animais apavorados, corriam descontroladamente. O Elefante que antes anunciava o Grande Encontro, só gritava: Salve-se quem puder!!! E Fogaréu, coitado, a cada movimento de desespero seu espalhava mais fogo ainda pela floresta. A mãe Natureza, chorando muito, chamou D. Águia para que essa dissesse a Chuvinha para jogar água, bastante água e bem forte sobre tudo que estava lá em baixo, pois só assim, o incêndio não devastaria toda a mata e nem mataria nenhum animal. Ao receber a ordem, Chuvinha disse que não poderia fazer isto, porque acabaria com Fogaréu, o grande amor de sua vida. Mas e os animais? E a floresta? Perguntou D. Águia. Lá em baixo, bem no centro do grande tumulto, uma voz ecoa alto, chegando através do vento nos ouvidos de Chuvinha. Era Fogaréu que gritava assim:

 - Chuvinha meu amor, use suas águas e acabe com o mal que provoquei. Mesmo que eu morra, você viverá comigo na eternidade e espero que eu também viva com você em suas lembranças.

 Chuvinha, triste, bastante triste, começou a chorar e foi esse seu choro que soprado pelo vento, começou a molhar a Terra do Faz de Conta. A cada gota que caía, Chuvinha não se continha e chorava mais forte, fazendo com que mais forte suas lágrimas caíssem sobre a terra. Chorou, chorou e quando esta se deu conta que o incêndio estava acabando e o que é pior, que FOGARÉU estava desaparecendo, caiu profundamente em um pranto incontrolável, chorando até a última de sua gota. Passado o tormento, os animais que haviam se escondido, voltaram para o centro da Floresta, o palco do espetáculo. Só que dessa vez, as estrelas do show não se encontravam mais lá. Fogaréu acabara de ser morto por Chuvinha e ela, também morrera porque não resistiu a dor de ter assim matado seu grande amor e chorou até secar todas suas águas. Mas, de repente, o rei Leão pede silêncio a todos e lá no céu, com a fumaça que subira dos restos queimados por Fogaréu e apagados por chuvinha, todos os bichos avistaram uma mensagem que se formou e dizia assim:

 - MESMO QUE NÓS NÃO ESTEJAMOS MAIS JUNTOS AQUI, MESMO QUE NOSSAS VIDAS JÁ NÃO SEJAM MAIS VIVIDAS POR NÓS, ESTAMOS JUNTOS NA ETERNIDADE DE NOSSAS ALMAS, PORQUE PODEM CALAR NOSSAS VOZES, MAS, NUNCA PODERÃO SILENCIAR NOSSO GRITO DE AMOR.

 Contribuição de Rinaldo Cláudio Guimarães Integrante do Grupo "Encantadores de Histórias".

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